Eleição polarizada só faz mal ao país quando se dá entre extremos
Sessão nostalgia: de volta à procura da terceira via
atualizado
Compartilhar notícia
Sequer passou um ano das últimas eleições e apenas oito meses do golpe de 8 de janeiro, está de volta a cantilena de que o Brasil segue polarizado, de que isso é muito ruim para o futuro, e de que algo deve ser feito para que não cheguemos assim em 2026.
Como se a polarização política fosse algo recente, tendo ocorrido apenas em 2018 quando Jair Bolsonaro, o presidente acidental, se elegeu, e em 2022 quando ele foi derrotado por Lula, recém-libertado depois de 580 dias na prisão em Curitiba.
Nos Estados Unidos, Republicanos e Democratas polarizam as eleições há mais de um século. Candidatos independentes se apresentam vez por outra, mas o eleito é sempre um Republicano ou Democrata. No Reino Unido, é um conservador ou trabalhista.
Dá-se o mesmo em países da Europa. É direita x esquerda. Por lá, a consolidação da extrema-direita é coisa nova em alguns países, e ela está em crescimento. Chama atenção porque só a menos de um século foi que a democracia se tornou o regime preponderante.
Sem partidos enraizados e representativos das mais expressivas correntes de opinião é muito difícil falar em democracia robusta. Daqui a sete anos, a Revolução de 1930 completará 100 anos. Até aqui, foram 93 anos de espasmos autoritários e democráticos.
O período mais longo de democracia é o que vivemos desde 1985 – 38 anos. Antes, Getúlio Vargas governou como ditador de 1930 a 1945 (15 anos). A ditadura militar de 64 estendeu-se por 21 anos de torturas, mortes e desaparecimentos; é quase empate.
A primeira eleição presidencial depois do fim da ditadura foi disputada por 23 candidatos, mas polarizada desde o início por um nome da direita, Fernando Collor, e dois da esquerda, Leonel Brizola e Lula. Eleito, Collor foi derrubado por um impeachment.
Apoiado pela direita, Fernando Henrique Cardoso derrotou Lula duas vezes nas eleições seguintes. Apoiado pela esquerda, Lula derrotou duas vezes a direita fantasiada de tucano, e Dilma também a derrotou até que teve seu mandato cassado.
Com os candidatos dos dois partidos atraindo a esmagadora maioria de votos, foi PSDB contra PT de 1994 até 2018, quando apareceu Bolsonaro, um estranho no ninho. A polarização só foi quebrada por Bolsonaro, o primeiro presidente a não se reeleger.
Está para nascer o candidato com chances de se oferecer como alternativa aos dois pólos, esquerda e direita; se nasceu não se conhece. O Brasil é um país conservador por natureza. Dos últimos 6 presidentes eleitos, porém, 3 eram de esquerda.
A chamada terceira via, de triste desempenho toda vez que botou a cabecinha de fora, está para ser inventada. Será sempre bem-vinda. Há gosto e sonhos para tudo.