E assim se passaram mil dias de Bolsonaro, um presidente acidental
E o vídeo do homem urinando na cabeça de outro? E a cloroquina para as emas? E a primeira-dama executiva? É tanta coisa a lembrar…
atualizado
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Lembra-se? Vídeo postado por Jair Bolsonaro nas redes sociais mostrou um homem urinando na cabeça do outro. Foi em março de 2019, menos de três meses depois de ele ter tomado posse como presidente da República. Bolsonaro usou o vídeo para atacar blocos carnavalescos que foram às ruas criticá-lo.
Dali a mais três meses, e pela primeira vez, ele defenderia armar o povo para evitar a instalação no Brasil de uma nova ditadura. Foi em um quartel em Santa Maria, Rio Grande do Sul. Nada a ver com uma ditadura militar como a de 64, que ele sempre apoiou. Bolsonaro referia-se a uma ditadura comunista.
Foram tantas as coisas que se sucederam desde então, cada uma mais bizarra do que a outra, que só a memória do Google é capaz de guardá-las. Abril do ano passado, quando a Covid já matava brasileiros: à porta do Quartel-General do Exército, em Brasília, Bolsonaro ouviu seus devotos pedirem uma intervenção militar.
A oferta de cloroquina às emas que vivem nos jardins do Palácio da Alvorada, se lembra? Ema é imune à Covid. Bolsonaro dava início à campanha para encher de dinheiro os bolsos de empresários donos de operadoras de planos de saúde como a Prevent Senior, e deixar morrer os que tivessem de morrer. Não é coveiro.
E o ministro da Educação que em reunião gravada sugeriu a prisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal, “esses vagabundos”? Fugiu do país para não ser preso. Ganhou de Bolsonaro como prêmio uma diretoria do Banco Mundial, em Washington. É pago em dólar. E o dólar, aqui, está em alta, como a inflação.
Na mesma reunião, o ministro do Meio Ambiente aconselhou a Bolsonaro “passar a boiada” porque a opinião pública só queria saber da pandemia. “Passar a boiada” significava desmontar a legislação que protegia o meio ambiente. O ministro perdeu o emprego, mas não por isso. Meteu-se em contrabando de madeira.
Sim, e a inauguração da ponte de madeira de 18 metros de comprimento por seis metros de largura que cruza um igarapé nas proximidades de uma comunidade indígena do Amazonas? É coisa recente. A ponte custou 225 mil. Bolsonaro gastou ao menos 711 mil para inaugurá-la, levando uma grande comitiva.
A primeira motociata ninguém esquece. Foi em Brasília ou no Rio? Creio que no Rio, quando o general Eduardo (“Manda quem pode, obedece quem tem juízo”) Pazuello discursou, detonando o Regulamento Disciplinar do Exército. O golpe de 7 de setembro que deu chabu… Talvez tenha ficado para outra data.
O aparecimento de Jairzinho paz e amor, invenção de Michel Temer; o pedaço de pizza comido em pé numa calçada de Nova Iorque – foi outro dia, se lembra? Sim, e o ministro da Saúde que contraiu o vírus e pôs o mundo em perigo. Essa é inesquecível, concorda? Testou de novo positivo. Não voltará tão cedo.
A última foi estrelada por Michelle, a primeira primeira-dama do Brasil a dar ordens à Caixa Econômica Federal. Ela intermediou empréstimos para sua rede privada de fornecedores – a doceira, a dona de loja que cuida do look dela, o dono de um salão de beleza, a florista, a cabeleireira, a amiga da cabeleireira…
É, gente, o bolsonavírus é mais poderoso do que a Covid que se rende às vacinas. Não escapa ileso ninguém que se aproxime do seu transmissor número um.