Dois anos de guerra na Ucrânia e 140 dias de guerra no Oriente Médio
Como o mundo ocidental trata cada uma delas
atualizado
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Está sendo lembrado o impacto nos civis da invasão russa à Ucrânia que hoje completa dois anos. Mais de 10 mil perderam a vida na Ucrânia, cerca de 3,7 milhões foram deslocados dentro do país, e mais de 6,5 milhões tornaram-se refugiados, segundo dados recentes da ONU que investiga o desaparecimento de 23 mil pessoas.
Os 24 meses de guerra também levaram o país a tornar-se o mais fortemente minado em todo o mundo, com cerca de 30% do seu território contaminado por minas terrestres. Ainda segundo a ONU, 40% da população ucraniana certamente precisarão de ajuda humanitária ao longo deste ano. Enquanto isso, no Oriente Médio…
Enquanto isso, a guerra Israel x Hamas completa hoje 140 dias. É o conflito mais grave em 75 anos de história de Israel e desde que Israel e o Hamas se enfrentaram por dez dias em 2021. Em Israel, 1.500 pessoas foram mortas até agora, e na Faixa de Gaza cerca de 30 mil palestinos, 70% deles mulheres e crianças.
Metade da população da Faixa de Gaza (1,7 milhão de pessoas) é de deslocados e desabrigados, sendo impossível calcular o número de soterrados pelos escombros nas cidades intensamente bombardeadas por Israel, e de feridos. A ajuda humanitária foi reduzida por Israel de 500 caminhões por dia para 50. A fome é alarmante.
Com veemência, os líderes das maiores democracias do Ocidente condenam a Rússia por ter invadido a Ucrânia, armam a Ucrânia para que ela não se renda e cobram o fim imediato da guerra e a retirada das tropas invasoras. Denunciam em tribunais internacionais os crimes de guerra que continuam sendo cometidos pelos russos.
No caso da guerra no Oriente Médio, os mesmos líderes adotam outro tipo de comportamento. O Hamas foi quem deu início ao conflito ao invadir Israel, matar e ferir civis e militares, e sequestrar cerca de 150 pessoas. Portanto, Israel está certo em retaliar, invadindo a Faixa de Gaza e partes da Cisjordânia à caça do Hamas.
Consideram, porém, que a retaliação ultrapassou os limites do razoável (que limites seriam esses?) e que a guerra deve ser suspensa mediante negociações que passam pela devolução dos sequestrados, a libertação de palestinos presos por Israel e o início do diálogo para a criação de um Estado prometido aos palestinos desde 1948.
O governo de extrema-direita de Israel recusa-se a parar a guerra até que mate ou prenda os líderes e combatentes do Hamas, estimados em 30 mil, e destrua as instalações que servem de abrigo para eles (todas as que ainda se mantêm de pé e operantes). O Norte da Faixa de Gaza foi seu primeiro objetivo. Chegou a vez do Sul.
O dia seguinte ao fim da guerra, que ninguém faz ideia de quando será, deverá obrigar o governo de Israel a revelar o que pretende fazer com a Faixa de Guerra, ou com o que restar dela. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu não antecipa a resposta para não dividir seu governo, e para não ser forçado a conceder mais do que pretende.
Na Ucrânia, não se pode falar em genocídio. São dois países armados que se enfrentam. No Oriente Médio, onde um dos Exércitos mais poderosos do mundo enfrenta uma organização terrorista e assassina um povo desarmado, pode-se, sim, falar em genocídio, mas os países aliados de Israel evitam. O presidente do Brasil voltou a falar.
Genocídio é o extermínio deliberado de um povo, no total ou em parte; uma limpeza étnica. Há controvérsia entre estudiosos quanto ao fato de se designar ou não como genocídio assassinatos em massa por motivos políticos. O genocídio de judeus e povos minoritários na Alemanha nazista durante a 2ª Guerra Mundial é chamado de Holocausto.
Criticado por ter comparado a atual guerra no Oriente Médio com o Holocausto, desta vez Lula limitou-se a chamá-la de genocídio:
“Eu, Luiz Inácio Lula da Silva, quero dizer da mesma forma que disse quando estava preso, que eu não trocava minha dignidade pela liberdade. Eu sou favorável à criação do Estado Palestino. E pelo Estado Palestino viver em harmonia com Israel. O que o Estado de Israel está fazendo com o povo palestino é genocídio.”
“São milhares de crianças mortas, milhares de desaparecidas. E não está morrendo soldado, estão morrendo mulheres e crianças dentro de hospital. Se isso não é genocídio, eu não sei o que é genocídio”.