Do jeito que vai, o TSE não honrará a palavra do seu presidente
E assim se passaram 36 dias para o julgamento de um único caso
atualizado
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A Justiça é lenta, como diz o bordão e a realidade comprova, e a mentira mais veloz do que a verdade na era das redes. Como acreditar na promessa de Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de que responderá de maneira “célere, firme e implacável” a práticas fraudulentas e abusivas?
Só se o que ele disse ao tomar posse no cargo não passou de força de expressão, as eleições deste ano serão mais sujas do que foram as de 2018. Bolsonaro, quando flagrado dizendo uma enorme besteira, afirma que não passou de “força de expressão” e dá o dito pelo não dito, para assim tentar escapar de danos à sua imagem.
Em livro publicado um ano antes de ser eleito, Bolsonaro chamou de “força de expressão” a declaração que fez sobre fuzilar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Dois anos depois, teria usado outra “força de expressão” ao se referir à nomeação de um ministro “terrivelmente evangélico” para o Supremo.
Onde se ouviu falar em “terrivelmente evangélico”, escute-se: ministro “com conhecimento técnico, respeito e confiabilidade”, como esclareceu depois. Em 2020, foi o ministro da Defesa quem defendeu como “força de expressão” a insinuação de Bolsonaro de que usaria “pólvora” para desafiar os Estados Unidos.
Mas, até Bolsonaro evolui. Na entrevista ao Jornal Nacional, lembrado de que desestimulou a vacinação contra a Covid-19 ao dizer que o imunizado poderia virar “um jacaré”, ele trocou “força de expressão” por “figura de linguagem”, recurso que “faz parte da literatura portuguesa”. Que chique. Não merece ser reeleito?
Vai ver que Justiça “célere, firme e implacável” foi uma “força de expressão” ou uma “figura de linguagem” a que se permitiu Moraes para arrancar aplausos de uma plateia encantada com sua voz. Bolsonaro estava bem treinado em sua aparição na Globo. O TSE parece não estar para sustentar a palavra do seu presidente.
O tribunal levou 36 dias para finalmente derrubar nas redes o vídeo onde Bolsonaro repetiu mentiras sobre as urnas eletrônicas diante de 40 diplomatas estrangeiros. O ministro Mauro Campbell, relator do processo, taxou as mentiras de “fatos inverídicos”, e qualificou a conduta de Bolsonaro como “prática abusiva”.
Nesse ritmo, o tribunal levará mais 36 dias para julgar outro caso, e assim só ficarão faltando dois dias para o primeiro turno das eleições. Deus pode ser brasileiro, como admitiu o Papa argentino. Mas deu ao homem o livre arbítrio para fazer o que bem quiser, célere, firme ou desastradamente.