Deus tem fama de ser brasileiro. Se não quer perdê-la, zele por nós
O último trunfo de Bolsonaro é a rebelião dos seus seguidores
atualizado
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Bolsonaro é esperto, inteligente, não. Culto, tampouco. Mas há vida inteligente em suas cercanias, só que ela nem sempre é ouvida. Se fosse, a farsa escrita a quatro mãos por ele e Roberto Jefferson não teria sido encenada com direito a tiros de fuzil e granadas. Mas, com apoio velado da ala radical do governo, foi.
Não era só para que a farsa mantivesse aceso o discurso do ódio contra a justiça, que Bolsonaro e os militares enxergam como o principal obstáculo à permanência deles no poder por mais quatro anos. Era para que os bolsonaristas dispostos a pegar em armas, animados pela farsa, se manifestassem, senão agora, até domingo.
Agora, ao que tudo indica, apenas rosnarão. Domingo, caso Bolsonaro perca, aí pode ser. Na sabatina da Record – que em 2018 não fez nenhuma porque Bolsonaro negou-se a comparecer alegando que a facada o deixara inativo -, Bolsonaro atacou o Tribunal Superior Eleitoral por censurar a rádio Jovem Pan.
Não houve censura. O tribunal concedeu a Lula três direitos de respostas porque comentaristas da emissora só o tratavam como corrupto, ex-presidiário e chefe de organização criminosa. Direito de resposta a quem se sinta ofendido está previsto na Constituição. O Jurídico da emissora foi que vetou a repetição das ofensas.
Sucessivos direitos de resposta arranham a imagem de um veículo de comunicação e prejudicam seus negócios. Os anunciantes tornam-se mais cautelosos ou param de anunciar; significa perda de credibilidade, de dinheiro, e, no limite, de audiência. Só faltava essa de Bolsonaro posar como defensor da liberdade de imprensa…
Só se for defensor da liberdade de bocas de aluguel, um ramo que prospera quando há um presidente com vocação de ditador. Todos os presidentes que conheci se queixavam da imprensa. Lula, uma vez, disse que gostava de publicidade, de notícia, não. Mas só Bolsonaro foi e é uma ameaça real à liberdade de imprensa.
Bolsonaro aproveitou a sabatina para declarar que as Forças Armadas seguem buscando “possíveis fraudes” em urnas que jamais foram fraudadas. O primeiro turno passou e os militares tiveram tempo suficiente para concluir se os resultados foram fraudados. Por que calam? Porque o silêncio interessa a Bolsonaro.
Se Lula vencer o segundo turno como venceu o primeiro, aí, sim, o silêncio deverá ser quebrado, é o que Bolsonaro espera. E espera que seja quebrado para denunciar suspeitas de fraude. É o último trunfo que ele imagina dispor para não largar a presidência. Tudo dependerá da rebelião armada com a qual ele sonha há anos.
Chegaremos a esse ponto? Haverá rebelião bem-sucedida? Creio que não. Mas quem seria capaz de acreditar que a uma semana das eleições aconteceria o que ontem aconteceu? Foi um teste?
O Papa é argentino, mas Deus tinha e ainda tem fama de ser brasileiro. Se não quiser perder a fama, que continue zelando por este país dilacerado. Livre-nos dos demônios. Amém!