metropoles.com

Descobertos em Goiás 212 homens em situação análoga à escravidão

No Rio Grande do Sul, há menos de um mês, foram 207

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Imaginestock/Getty Images
Trabalho análogo à escravidão
1 de 1 Trabalho análogo à escravidão - Foto: Imaginestock/Getty Images

Oficialmente, a escravidão no Brasil foi abolida pela princesa Isabel, a filha mais velha do imperador Pedro II, em 13 de maio de 1888, há quase 135 anos. Não o fez por bondade, mas sob pressão da Inglaterra e do movimento abolicionista que crescia por aqui.

O Brasil foi o último país das Américas a libertar os escravos. Aos negros não foram garantidos terra, trabalho remunerado ou acesso à educação. Para não morrerem de fome, muitos continuaram servindo aos mesmos senhores.

Uma operação de combate à escravidão contemporânea, que contou com a participação do Ministério Público do Trabalho e da Polícia Federal, terminou, ontem, com o resgate de 212 homens que trabalhavam no plantio de cana-de-açúcar em Goiás.

Foi o maior número de resgatados em uma única operação em 2023, batendo o recorde dos 207 “escravizados do vinho” em Bento Gonçalves (RS), há menos de um mês. O total acumulado de 1º de janeiro a 17 de março chegou a 893 trabalhadores.

A maioria dos que trabalhavam em situação análoga à escravidão no Rio Grande do Sul (93%) foi recrutada na Bahia. Em Goiás, eram do Piauí, Rio Grande do Norte e Maranhão, o estado com maior número de pessoas em pobreza extrema (8,4%, em 2021).

Os escravos descobertos em Goiás estavam alojados em Itumbiara e Porteirão (GO) e Araporã (MG). Operavam para a mesma prestadora de serviços que fornecia mão de obra a quatro fazendas e uma usina. E trabalhavam em péssimas condições.

“Quem tinha um pouco de dinheiro comprava um colchão. Quem não tinha dormia no chão, em cima de panos ou de papelão”, contou o auditor fiscal Roberto Mendes, coordenador da operação, a Leonardo Sakamoto, colunista do portal UOL. Contou mais:

“Como a empresa não fornecia alimentação, eles comiam o que tinham, muitas vezes só arroz com salsicha. Estavam em barracos precários, sem ventilação, com goteiras, sem chuveiro. A empresa terceirizada vendia as ferramentas aos trabalhadores, o que, por lei, deveria ser fornecido gratuitamente”.

Autuados, a prestadora de serviços SS Nascimento Serviços e Transporte e cinco tomadores – quatro fazendas de cana e a unidade de Edéia (GO) da usina BP Bunge Bionergia – assumiram a responsabilidade e se dividiram para pagar os trabalhadores.

“Conseguimos negociar o pagamento das verbas rescisórias e o ressarcimento daquilo que foi cobrado ilegalmente, como compra de colchões e de ferramentas de trabalho”, disse o procurador do trabalho Alpiniano Lopes.

Ao todo, foram R$ 2,57 milhões de verbas rescisórias e direitos trabalhistas, mais 50% desse valor em dano moral individual, totalizando R$ 3,85 milhões pagos às vítimas. Lopes diz que mais R$ 5 milhões estão sendo negociados como dano moral coletivo.

Está na Constituição que o Estado é obrigado a expropriar terras e confiscar bens das empresas que usarem mão de obra em condições análogas à escravidão. Mas, como o artigo não foi regulamentado até hoje pelo Congresso, não está valendo.

Por uma segunda abolição da escravidão!

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comBlog do Noblat

Você quer ficar por dentro da coluna Blog do Noblat e receber notificações em tempo real?