Depois de Lula (“Eu sou o Estado”), o dilúvio no PT
O sujeito oculto e o último capítulo de uma biografia repleta de vitórias
atualizado
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Disse o deputado José Guimarães (PT-CE), líder do governo Lula 3 na Câmara dos Deputados, o que grande parte do seu partido repete em voz baixa para não piorar a situação.
Em encontro do “Construindo um Novo Brasil”, a principal corrente do PT (existem outras cinco ou seis), Guimarães criticou o comando político do governo e cobrou mudanças.
Está faltando, segundo ele, um “comando político mais estrategicamente centralizado” na relação com a sociedade, o Congresso, estados e municípios”, e isso explica tantos revezes.
À falta de comando, os partidos que dizem apoiar o governo, que detém cargos nele, não se sentem obrigados a entregar todos os seus votos no Congresso para aprovar projetos do governo.
Para Guimarães, e não é a primeira vez que ele o diz, é preciso “dar uma cachoalhada” no governo, promovendo a troca de nomes, porque é grande “o risco da acomodação”. Sua fala vazou.
Tudo em Brasília vaza. No dia seguinte ao encontro, Guimarães procurou Alexandre Padilha (PT-SP), ministro das Relações Institucionais, para dizer que não se referiu a ele.
Padilha é responsável pela articulação política do governo com o Congresso. Se não foi ele o sujeito oculto das críticas de Guimarães, quem foi? O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA)?
Ou o líder do governo no Congresso, o senador sem partido Randolfe Rodrigues (AP)? Não será por falta de líderes e de vice-líderes que a coordenação política do governo capenga.
Mistério! A quem Guimarães teria se referido, sem citar o nome, ao dizer o que disse? A Rui Costa (PT-BA), ministro-chefe da Casa Civil, o segundo homem mais poderoso do governo? Ou a Lula?
Procura-se dentro do PT e fora dele quem fale bem de Costa, um mal-humorado por natureza, que centraliza tudo e atrapalha as ações dos seus pares, entre eles Fernando Haddad (PT-SP).
Correção: Wagner fala bem de Costa, que o sucedeu no governo da Bahia. Verdade que de vez em quando eles se desentendem, como ocorreu numa festa recente no Morro de São Paulo, na Bahia.
Não está nos planos de Lula chacoalhar o ministério antes das eleições municipais deste ano e da escolha em fevereiro próximo dos novos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado.
Lula promete, promete, assumir a coordenação política do governo, mas não o faz – ou porque não tem mais paciência para isso, ou porque não liga para o que venha depois dele.
É claro que ele se preocupa com o último capítulo de sua biografia, e quer escrevê-lo da melhor maneira possível. Mas o último capítulo poderá ser este que está a viver e que termina em 2026.