Debite-se na conta de Tarcísio a violência da PM de São Paulo
Ele não está nem aí…
atualizado
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Boas ou más, há frases que embora pronunciadas uma única vez acompanharão seus autores para sempre. Bolsonaro é autor de muitas delas, quase todas para sua infelicidade.
Professor de português antes de ser político, Jânio Quadros foi um frasista emérito. Juscelino Kubitschek contou com um grupo de intelectuais para pôr na sua boca frases que marcaram a história.
Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, carece da falta de cerimônia de Bolsonaro para dizer o que lhe vem à cabeça, da cultura de Jânio e da preocupação de JK com a posteridade.
Prestes a concluir a primeira metade do seu mandato, arrisca-se a ser lembrado pelo que disse no início deste ano ao ser confrontado com denúncias sobre 90 mortos pela polícia na Baixada Santista:
– Sinceramente, nós temos muita tranquilidade com o que está sendo feito. E aí o pessoal pode ir na ONU, pode ir na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não estou nem aí.
De janeiro a setembro último, o número de mortos pela Polícia Militar de São Paulo cresceu 82% na comparação com o mesmo período de 2023. Foram 474 mortos contra 271.
Nas últimas semanas, uma série de casos chocantes envolvendo agentes da Polícia Militar ganharam destaque e puseram em xeque a política de segurança pública endossada por Tarcísio.
Ele quer ser conhecido como o governador que mais combateu o crime organizado em São Paulo. Por ora, só assegurou o título de governador que deu carta branca à polícia para que mate à toa.
Na zona sul da capital paulista, em apenas 24 horas, um policial militar arremessou um homem do alto de uma ponte, e outro, com 8 tiros, matou pelas costas outro homem.
Os crimes foram filmados. Os paulistas parecem acostumados com assassinatos pelas costas. Mas essa é a primeira vez que viram um homem, dominado por policiais, ser jogado de uma ponte.
O secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, afirmou que “ações isoladas” não podem manchar a imagem da Polícia Militar, instituição “com 200 anos de bons serviços prestados”.
O coronel Cássio Araújo de Freitas, Comandante-Geral da Polícia Militar, derrapou feio ao comentar o episódio da ponte:
– Eu considero um erro básico. Um erro emocional de jogar o rapaz ali. Aquilo era quase infantil, um negócio daquele.
Não foi erro básico. Não foi um erro emocional. O ato do policial não foi “quase infantil”. Nem pode ser tratado como “um negócio daquele”. Foi um crime com características de inédito.
Um dia após o arremesso do homem que caiu de uma altura de três metros, mas que sobreviveu, Tarcísio participou de um programa de rádio e cantou a música “Boate Azul”.
Tarcísio fugiu dos jornalistas para não responder a perguntas sobre os dois crimes. Escreveu nas redes sociais:
– A Polícia Militar de São Paulo é uma instituição que preza, acima de tudo, pelo seu profissionalismo na hora de proteger as pessoas. Policial está na rua para enfrentar o crime e fazer com que as pessoas se sintam seguras. Aquele que atira pelas costas, que chega ao absurdo de jogar uma pessoa da ponte, evidentemente não está à altura de usar essa farda. Esses casos serão investigados e rigorosamente punidos.
Declaração burocrática, sem a menor empatia com as vítimas, e que em nada contribui para afrouxar o dedo da polícia no gatilho, muito pelo contrário, e o governador sabe disso.
Tarcísio espera asfaltar seu caminho para a presidência da República em 2026 ou em 2030 com a política do bandido bom é bandido morto, mesmo que isso possa custar a vida de inocentes.