CPI do Golpe servirá para que o governo teste sua força no Congresso
“Há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia.” (William Shakespeare)
atualizado
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Pergunta que teima em ser feita: qual Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da presidência da República foi omisso ou cúmplice no caso do golpe de 8 de janeiro?
O GSI do general Augusto Heleno que apenas há uma semana deixara o cargo inconformado com a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro a quem servira com uma devoção exemplar?
Ou o GSI do general Gonçalves Dias, amigo pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ele ligado há mais de 20 anos, e que apenas há uma semana assumira o cargo que fora de Heleno?
Entre 2003 e 2009, Gonçalves Dias cuidou da segurança pessoal de Lula. No governo Dilma, foi chefe da Coordenadoria de Segurança Institucional, sendo promovido a general.
Voltou a cuidar da segurança de Lula depois que ele foi solto e virou candidato a presidente. Na noite de 30 de outubro último, ao ouvir o anúncio oficial da vitória de Lula, chorou copiosamente.
Lula sabia que Gonçalves Dias esteve no Palácio do Planalto depois que o prédio fora invadido pelos golpistas de 8 de janeiro. Mas nunca vira imagens do general perambulando por lá.
As imagens foram mostradas pela CNN. O general confere se portas do terceiro andar do palácio, onde Lula despacha, estavam ou não trancadas, e orienta invasores a saírem dali.
Ah, dir-se-á que ele não ordenou a prisão de invasores. Como ordenaria? Gonçalves Dias era um general sem tropa. Os poucos agentes do GSI à sua disposição foram escolhidos por Heleno.
Um, de camisa branca, sem farda, até confraternizou com golpistas e deu um copo d’água a um deles. A transição de um governo para o outro foi uma coisa complicada.
O general perdeu o emprego porque alguém teria de pagar pela suspeita, disseminada pelos bolsonaristas, de que o governo Lula facilitou a ação dos golpistas para em seguida incriminá-los.
Não só por isso. Na narrativa construída por bolsonaristas, os invasores que depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso e o prédio do Supremo Tribunal Federal eram militantes do PT.
Militantes do PT? Sim, militantes disfarçados de seguidores fiéis de Bolsonaro. Um único invasor dos prédios foi identificado até hoje como militante do PT ou de partidos de esquerda.
O que importa? Nestes tempos estranhos, cada um acredita no que quer. Verdade é uma questão de escolha pessoal. Tanto que golpistas são capazes de defender a criação da CPI do Golpe.
O governo era contra a CPI para não fazer o jogo dos bolsonaristas, e para que ela não atrapalhasse a tramitação dos seus projetos no Congresso. Como a CPI tornou-se inevitável, ele aderiu à ideia.
O grande trunfo dos bolsonaristas, a ser revelado por eles na CPI em momento oportuno, talvez fosse a imagem do general Gonçalves Dias mostrada pela CNN. Quem a vazou?
Assessores de Lula juram que não foi o governo. Se tivesse sido, foi uma jogada inteligente. Tudo indicava que a CPI seria instalada de qualquer forma. É um direito líquido e certo das minorias.
Quando nada, a CPI do Golpe servirá para que o governo teste sua força no Congresso.