Corrupção emporcalha imagem do governo mais honesto da história
Mas o chefe da Casa Civil tem outro nome para explicar isso
atualizado
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Você já deve ter ouvido falar sobre os pastores evangélicos recomendados por Bolsonaro que cobravam propinas a prefeitos em troca de acesso às verbas do bilionário Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. O escândalo recém-descoberto derrubou o quinto ministro da Educação em três anos de governo.
O que talvez você não tenha ouvido falar é que escândalo desse tipo ou parecido é chamado de “corrupção virtual” pelo ministro Ciro Nogueira (PP-PI), atual chefe da Casa Civil da presidência da República, que se apresenta como o “amortecedor” de tensões dentro e fora do governo. Palavras também servem para enganar.
Sessões virtuais tornaram-se comuns no Congresso e nos tribunais desde que a pandemia da Covid-19 instalou-se por aqui com passe livre concedido pelo governo da “gripezinha” e da cloroquina. Debates virtuais, também, e pela mesma razão. Corrupção virtual é novidade, fruto da imaginação profícua de Nogueira.
Teria sido o caso de perguntar a ele se não passou apenas de virtual a acusação que lhe fez a Polícia Federal de ter cometido os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro porque é suspeito de ter recebido propina do grupo JBS em troca do apoio para a reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014.
Nogueira diz não acreditar que o escândalo dos pastores no Ministério da Educação vá atrapalhar o discurso anticorrupção do governo. Por que não vai? Porque “não houve corrupção”, simples assim. “É uma corrupção virtual”, ele insiste. “Existem as narrativas, mas o que foi desviado de lá? Não foi pago nada”.
Pena que Nogueira não tenha tido antes a ideia de batizar de corrupção virtual a negociata no Ministério da Saúde para a compra a preço superfaturado da vacina Covaxin contra a Covid-19. Uma vez descoberto o caso, a licitação foi suspensa e o governo desistiu da compra. Certamente foi outra narrativa.
Para desqualificar um fato incômodo, nada melhor do que tratá-lo como se narrativa fosse, engendrada por adversários Fato deixou de ser fato. Foi suplantado por opinião, e cada um pode ter a sua em nome da liberdade de expressão. O Tribunal de Contas da União suspendeu a compra de 3.850 ônibus escolares.
Havia sobrepreço em jogo. No mercado, o ônibus era mais barato. O tribunal não julgou que isso fosse uma narrativa só para desgastar a imagem do governo. Nem um episódio a mais de corrupção virtual. Pode ter sido outro episódio de corrupção abortada, mas isso Nogueira não admitirá nunca.
Não admitirá que foi corrupção a aquisição de centenas de kits de robótica por R$ 26 milhões para cidades alagoanas, redutos de votos do seu colega de partido, Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados. O governo pagou R$ 14 mil por unidade. No mercado, os melhores kits não chegam a custar R$ 10 mil.
E assim caminha o governo do presidente mais honesto da história do país.