Comunicação pública para Bolsonaro é caso de polícia
Jornalismo chapa branca só serve aos governantes, à sociedade, não
atualizado
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De direita, esquerda ou centro, se pudessem os governantes em todas as partes do mundo controlariam o jornalismo com mão de ferro para que ele não lhes causasse danos.
Todos eles se declaram democratas, até mesmo os autocratas descarados. Mas apenas esses últimos não disfarçam e assumem que o jornalismo para eles, não raro, é questão de polícia.
Se não podem chamar a polícia, empenham-se então abertamente em desqualificar a imprensa. Foi o que fez nos Estados Unidos Donald Trump, e Jair Bolsonaro no Brasil.
É o que Trump voltará a fazer se suceder como deseja o presidente Joe Biden a partir de 2024, e ele tem chances. É o que Bolsonaro faria se tivesse sido reeleito. Ainda bem que não foi.
Bolsonaro conseguiu em menos de quatro anos dividir quase ao meio a imprensa, cooptando parte dela. Não lhe custou tão caro. No caso da imprensa oficial, não lhe custou nada.
Bernardo Mello Franco, hoje em O Globo, pergunta: Quem é o secretário de Comunicação do governo Bolsonaro? Resposta: André de Sousa Costa, coronel da Polícia Militar de Brasília.
E a titular da Secretaria de Imprensa do Palácio do Planalto que Bolsonaro deixou de frequentar rotineiramente desde que perdeu a eleição? Uma major da Polícia Militar.
Eles não foram nomeados à toa. Estão lá para vigiar servidores, esconder informações e dificultar o trabalho dos repórteres. Comunicação pública não é jornalismo chapa branca.
Muitas vezes, a imprensa não atenta para atividades de relevante interesse social. É aí que a comunicação financiada pelo Estado com o nosso dinheiro revela sua importância.
Ela é um braço dos governos, mas que deve servir antes de tudo à sociedade. O melhor exemplo disso é a BBC, sistema de difusão de rádio e televisão pública do Reino Unido, fundada em 1922.
Como observa Mello Franco, levar a comunicação pública a sério é “sinal de respeito aos cidadãos que têm o direito de saber o que as autoridades fazem e como elas gastam o dinheiro dos impostos.”
Lula tem uma oportunidade de ouro para resgatar o conceito universal de comunicação pública. O que preocupa é que no passado, ele chegou a dizer uma vez:
“Não gosto de notícias, gosto de publicidade”.