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Como jabuticaba, golpe com minuta tramado via celular é coisa nossa

Um toque de modernidade

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O presidente Jair Bolsonaro e Mauro Cid conversam durante participa da solenidade em homenagem ao dia do Soldado no QG do Exército
1 de 1 O presidente Jair Bolsonaro e Mauro Cid conversam durante participa da solenidade em homenagem ao dia do Soldado no QG do Exército - Foto: Andre Borges/Especial Metrópoles

Seria um golpe à moda antiga, com direito a tanques do Exército estacionados na Praça dos Três Poderes ou em frente ao prédio do Congresso, como o de 64. Com pequenas diferenças: minutas, onde todos os passos do golpe estavam previstos, e discussão via celular. Um toque de modernidade, por que não?

Mesmo assim poderia ter dado certo como deu o de 64, que foi uma esculhambação. Sem avisar a ninguém, o general Olympio Mourão Filho, comandante da 4ª Região Militar em Juiz de Fora, Minas Gerais, marchou com suas tropas sobre o Rio de Janeiro. Então, os demais conspiradores entraram em pânico.

Não chegara a hora de derrubar o presidente João Goulart. Havia muitas pontas soltas a serem atadas. O general não encontrou resistência. Ao chegar vitorioso no Rio, pensou que ganharia um cargo de destaque no novo regime. Como não ganhou, autodenominou-se “Vaca Fardada” e entrou para a História.

O golpe que Jânio Quadros tentou aplicar em 1961 fora coisa de um político que vivia de porre. Proibiu briga de galo, corrida de cavalos durante a semana e o biquíni. Renunciou à presidência depois de seis meses com a esperança de voltar ao poder nos braços do povo e com um Congresso emasculado. Não voltou.

Lembra-se da minuta do golpe de 8 de janeiro, que hoje completa seis meses, encontrada na casa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça? A Polícia Federal encontrou outra, desta vez no celular do tenente-coronel Mauro Cid, o mais importante ajudante de ordem de Bolsonaro, preso desde o dia 3 de maio.

A minuta de Mauro Cid trata da convocação do Exército para uma operação de restabelecimento da ordem pública, e estava acompanhada de estudos que dariam sustentação jurídica ao golpe. A de Torres, mais detalhada, fala até em prisão do ministro Alexandre de Moraes, que seria levado para local incerto.

O golpe fora ensaiado nas ruas de Brasília em 12 de dezembro, dia da diplomação de Lula. Bolsonaristas acampados à porta do QG do Exército visitaram Bolsonaro no Palácio da Alvorada e de lá partiram para o centro da cidade, onde tocaram fogo em ônibus e atacaram a sede da Polícia Federal sob as vistas da Polícia Militar.

No acampamento, frequentado por parentes de militares, vendiam-se drogas e fabricava-se até bombas. Uma, na véspera do Natal, foi afixada em um caminhão de combustíveis com acesso à parte interna do aeroporto de Brasília. Acionada, não explodiu. Os responsáveis pelo atentado foram presos e condenados.

É possível que duas pessoas ligadas estreitamente a Bolsonaro se envolvessem em um golpe que o beneficiaria sem que ele soubesse? Ou, sabendo, fosse contra? Em momento algum, depois de derrotado, Bolsonaro dirigiu-se aos acampados a pedir que retornassem imediatamente às suas casas. Nem o Exército pediu.

Ao renunciar, Jânio embarcou para São Paulo levando na bagagem a faixa presidencial que foi obrigado a devolver. Ao fugir para os Estados Unidos em dezembro, Bolsonaro deixou a faixa para trás. Voltaria a usá-la se o golpe do 8 de janeiro fosse o sucesso que muitos esperavam. Por exilado, nada tinha a ver com ele.

Tom Jobim, um dos autores da música “Garota de Ipanema”, cunhou a frase: “O Brasil não é para principiantes.” Mais tarde, “principiantes” deu vez a “amadores”. E ficou assim para sempre: “O Brasil não é para amadores”. Foi desmentido por Bolsonaro e sua organização criminosa.

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