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Como anos de desatenção de Israel com o Hamas levaram ao 7/10

O ataque devastador daquele dia destruiu o outrora invencível sentimento de segurança do país

atualizado

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Assessoria de Imprensa do Governo de Israel/ Anadolu via Getty Images
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, visita soldados israelenses enquanto inspeciona a região onde os soldados estão posicionados nos assentamentos de Be'eri e Kfar Aza, no sul de Israel, perto da fronteira com Gaza, em 14 de outubro de 2023
1 de 1 O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, visita soldados israelenses enquanto inspeciona a região onde os soldados estão posicionados nos assentamentos de Be'eri e Kfar Aza, no sul de Israel, perto da fronteira com Gaza, em 14 de outubro de 2023 - Foto: Assessoria de Imprensa do Governo de Israel/ Anadolu via Getty Images

Foi uma grave falha no sistema de inteligência de Israel que pôs em risco há 50 anos a existência do próprio país naquela que ficou conhecida como a Guerra de Yom Kippur.

Em 1967, Israel aumentou de tamanho anexando territórios sírios e egípcios – Península do Sinai, uma parte do Canal de Suez, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e as Colinas de Golã.

No dia 6 de outubro de 1973, Egito e Síria tentaram reaver os territórios perdidos atacando Israel no Dia do Perdão. A guerra matou mais de 2,6 mil israelenses, 15 mil egípcios e 3,5 mil sírios

“A história se repete primeiro como tragédia, depois como farsa”, disse Karl Marx, filósofo alemão, apontado como o pai do comunismo. “Farsa” no sentido de comédia.

Daquela vez, o sistema de escuta de Israel estava desligado. Golda Meir, então a primeira-ministra de Israel, só soube disso ao fim da guerra, guardou segredo, mas ao final assumiu a culpa.

Desta vez, no último dia 7, um sábado, o grupo radical Hamas, que governa a Faixa de Gaza, pôs a pique o sistema de escuta de Israel e invadiu o país. Já morreram 1.400 judeus e 8 mil palestinos.

Quando indagado a respeito, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu , que governa Israel há mais de 16 anos, recusa-se a assumir pelo menos parte da culpa. Diz que não foi avisado.

Uma extensa investigação do New York Times, publicada ontem à noite e baseada em dezenas de entrevistas e documentos do governo de Israel, mostra que:

As autoridades de segurança de Israel passaram meses a tentar alertar Netanyahu de que a turbulência política causada pelas suas políticas internas enfraquecia a segurança do país e encorajava os inimigos de Israel. Netanyahu continuou a promovê-las. Num dia de julho, ele negou-se a receber um general que queria lhe entregar um alerta de ameaça amparado em informações secretas.

* As autoridades israelitas avaliaram mal a ameaça representada pelo Hamas durante anos, e de forma mais crítica no período que antecedeu o ataque. A avaliação oficial da inteligência militar israelense e do Conselho de Segurança Nacional desde maio de 2021 foi que o Hamas não tinha interesse em lançar um ataque a partir de Gaza que pudesse provocar uma resposta devastadora.

* A crença de Netanyahu e dos principais responsáveis pela segurança israelita de que o Irã e o Hezbollah é que representavam a mais grave ameaça a Israel, desviou a atenção e os recursos do combate ao Hamas.

No final de setembro, altos funcionários israelitas disseram que estavam preocupados com a possibilidade de Israel ser atacado nas próximas semanas em várias frentes por grupos de milícias apoiados pelo Irã, mas não fizeram qualquer menção ao fato de o Hamas iniciar uma guerra com Israel a partir da Faixa de Gaza.

Nos últimos anos, as agências de espionagem americanas pararam em grande parte de recolher informações sobre o Hamas e os seus planos, acreditando que o grupo era apenas uma ameaça regional que Israel poderia administrar.

Em 24 de julho, segundo o New York Times, dois generais israelenses chegaram ao Knesset, o parlamento de Israel, para entregar avisos urgentes aos legisladores.

O Knesset estava programado para nesse dia aprovar uma das tentativas de Netanyahu de restringir o poder do judiciário de Israel – um esforço que convulsionou a sociedade israelense.

Uma parcela dos pilotos da Força Aérea ameaçava não comparecer ao serviço se a legislação fosse aprovada. Apenas dois membros do Knesset compareceram para ouvir os avisos dos generais

Separadamente, o general Herzi Halevi, chefe do Estado-Maior militar, tentou levar os mesmos avisos a Netanyahu. O primeiro-ministro não quis encontrá-lo.

A legislação foi aprovada de forma esmagadora pelo Knesset. As preocupações dos funcionários aumentaram durante agosto e setembro, e o general Halevi tornou público o que pensava:

“Devemos estar mais preparados do que nunca para um conflito militar extenso e multi-arena”, afirmou durante uma cerimônia militar em 11 de setembro, poucas semanas antes do ataque.

Os aliados de Netanyahu foram à televisão israelita e condenaram o general Halevi por semear o pânico.

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