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Comandantes militares, os novos intérpretes da Constituição

Eles passam a mão na cabeça dos que pedem a anulação das eleições

atualizado

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Orlando Brito
Bolsonaro e militares
1 de 1 Bolsonaro e militares - Foto: Orlando Brito

Lula erra ao dizer que Jair Bolsonaro humilha as Forças Armadas usando-as para desacreditar o processo eleitoral e criando assim o clima de que um novo golpe, no limite, seria possível.

Os militares não foram humilhados e nem se deixaram humilhar. Tudo o que fizeram, quase sempre à vontade, era parte do plano de evitar que a esquerda, tão cedo, voltasse a governar o país.

Perde-se de vista que os militares apoiaram com entusiasmo a eleição de Bolsonaro em 2018 e sua reeleição porque pela primeira vez chegaram ao poder sem golpe, e nele pretendiam ficar.

Por muito tempo, mantiveram-se distantes de Bolsonaro, excluído do Exército nos anos 80 sob a acusação de planejar atentados terroristas a quartéis em protesto por melhores salários.

Antes de Bolsonaro dar sinais de que poderia se eleger presidente, o general Eduardo Villas Boas, comandante do Exército, selou a sorte de Lula com a publicação de um post no Twitter.

Foi em 3 de abril de 2018. O Supremo Tribunal Federal preparava-se para votar um habeas corpus que poderia livrar Lula da prisão. O post do general dizia simplesmente:

“Asseguro à Nação que o Exército brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à democracia, bem como se mantém atento às suas missões constitucionais.”

No dia seguinte, depois de quase onze horas de discussão, os 11 ministros do Supremo rejeitaram o habeas corpus por 6 votos a 5. Lula foi preso quatro dias depois. Ficaria preso por 580 dias.

Uma vez eleito presidente, à primeira discordância com o novo comandante do Exército, Bolsonaro não só o demitiu como forçou a demissão dos comandantes da Marinha e da Aeronáutica.

Mais tarde, rifou o general que era ministro da Defesa por se opor à orientação de bater de frente com o Supremo. Daí em diante, Bolsonaro teve respaldo da farda para fazer quase tudo o que quis.

Onde já se viu desfile de tanques na Praça dos Três Poderes a pretexto de entregar um convite ao presidente? Ou um 7 de setembro transformado em comício de um candidato?

Nunca antes as Forças Armadas se prestaram ao papel de auditar as urnas eletrônicas. Uma vez que não acharam irregularidades, concluíram que se não houve sempre poderá haver. Ridículo.

Os chefes militares acolheram à porta de quartéis milhares de bolsonaristas que pedem a anulação dos resultados das eleições do último dia 30 já proclamados pela justiça.

E, em defesa dos rebelados, distribuem nota onde reconhecem que eles têm o direito de se manifestar. Comportam-se como se fossem uma espécie de poder moderador.

Bem que gostariam de ser, mas não são. São feras feridas, inconformadas com uma derrota que não estava em seus cálculos.

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