Com a ajuda de Lula, Haddad ganha e a esquerda do PT perde
O diabo é sábio não porque é diabo, mas porque é velho
atualizado
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Entre os muitos conselhos que ouviu desde quando no início dos anos 1980 trocou o sindicalismo pela política tradicional, o ex-torneiro-mecânico Lula da Silva sempre mencionou dois.
Sobre os militares, o então primeiro-ministro espanhol Felipe Gonzáles aconselhou-o a dar-se bem com eles, lembrando que um general leva 40 anos para ser formado e dificilmente muda.
Sobre os radicais do PT, o economista Celso Furtado, então ministro da Cultura do governo José Sarney, disse-lhe que não deveria se preocupar com eles. Por que não deveria?
“Eles prestam um serviço extraordinário porque, ao impedirem que você vá para a direita, o mantêm no caminho do meio”.
Furtado sabia do que falava. Ministro do Planejamento do governo João Goulart, teve os direitos políticos cassados pela ditadura de 64 e foi obrigado a se exilar. Voltou ao Brasil com a anistia de 1979.
Na primeira reunião ministerial do governo Lula 1 em 2003, Lula foi logo dizendo a quem pudesse interessar:
“Toda vez que fui pela esquerda me dei mal”.
Nem por isso deixou de ir. Mas muitas vezes foi pela esquerda para não ter que ir pela direita, acomodando-se afinal no centro. Agora, fez isso de novo no caso do arcabouço fiscal.
Deu corda à esquerda do PT para pressionar o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, de modo que ele não cedesse tanto aos desejos do mercado financeiro e do Centrão.
Por fim, fechou com Haddad e com a sua proposta que será possivelmente remetida ao Congresso nesta semana. Deixou a esquerda a ver navios, embora repleta de cargos no governo.