Coincidências ou não na construção de um regime autoritário
Assim é, se lhe parece
atualizado
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Na véspera de iniciar uma devassa ilegal em dados sigilosos de desafetos de Bolsonaro e de sua família, o então chefe da inteligência da Receita Federal, Ricardo Pereira Feitosa, visitou o Palácio do Planalto no dia 9 de julho de 2019. E esteve por lá outra vez em 16 de julho de 2019, dia em que concluiu a devassa.
Documentos obtidos pela Folha de São Paulo não informam com quem Feitosa esteve no Palácio do Planalto no dia 9 de julho. Mas indicam que no dia 16 de julho ele esteve com o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete Institucional da presidência da República, que despachava com Bolsonaro diariamente.
Em 10 de julho, um dia após ter estado no palácio, Feitosa fez nas bases da Receita os primeiros acessos ilegais e copiou dados fiscais sigilosos do então procurador-geral de Justiça do Rio, Eduardo Gussem, coordenador das investigações do caso das “rachadinhas“, cujo alvo principal era o senador Flávio Bolsonaro, o Zero Um.
Nesse mesmo dia, Feitosa acessou também dados fiscais do ex-ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro, Gustavo Bebianno, recém demitido, e do empresário carioca Paulo Marinho, políticos que haviam rompido relações com a família presidencial. Marinho é suplente de Flávio e seu eventual substituto.
Seis dias depois, em 16 de julho de 2019, Feitosa fez novo acesso ilegal aos dados de Bebianno e Marinho, vasculhando dessa vez também os dados da mulher do empresário, Adriana Marinho. Foi em 16 de julho que Feitosa saiu direto do prédio da Receita para o gabinete de Heleno no Palácio do Planalto.
A Receita abriu uma investigação interna e o caso está atualmente na Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional com a recomendação de demissão de Feitosa do serviço público. A decisão caberá a Fernando Haddad, ministro da Fazenda. Era assim que se construía o regime autoritário tão sonhado por Bolsonaro.