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Ciro Gomes culpa Lula por tudo, mas diz que aceitaria o apoio dele

Política não se faz com o fígado

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Ciro Gomes durante seminário combate à corrupção em SP
1 de 1 Ciro Gomes durante seminário combate à corrupção em SP - Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

Soou mais a despedida do que entrada em campo a entrevista de três horas concedida, ontem à noite, à Globonews, pelo candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes.

A certa altura, ele repetiu o que tem dito ultimamente, que suas chances de se eleger são pequenas, embora ainda acredite nelas. Bateu forte em Lula e em Bolsonaro, mas de preferência em Lula.

O deputado Ulysses Guimarães, presidente do MDB, da Câmara e da Constituinte nos anos 80, ensinou que “não se faz política com o fígado, conservando o rancor e os ressentimentos na geladeira”.

Por mais que se esforce, e se esforça pouco, é com o fígado que Ciro faz política, tanto mais quando vê dissipar-se pela quarta vez o sonho de presidir o Brasil. Sente-se injustiçado por isso.

E culpa Lula e o PT pelo seu sofrimento. Diz-se arrependido de em ocasiões anteriores ter se unido ao PT no apoio a Lula, e garante que nunca mais em sua vida irá fazê-lo.

O país está uma desgraça depois que Bolsonaro assumiu a Presidência da República? Está, responde Ciro, mas a desgraça foi menos construída por Bolsonaro do que por Lula, Dilma e o PT.

Mas se Lula for para o segundo turno contra Bolsonaro, você faria campanha por ele?, perguntaram-lhe. E Ciro respondeu:

“Como é que dizendo que eles são corruptos, destruíram o país, não são democratas, como poderia fazer campanha junto a essa gente? Comigo, o Lula não conta nunca mais”.

Sim, mas se para o segundo turno contra Bolsonaro fosse ele, Ciro, aceitaria o apoio de Lula? Aceitaria Lula no seu palanque? Aí Ciro respondeu que aceitaria o apoio e a presença de Lula no palanque.

Contraditório. Mas não se exija coerência de um candidato que é um pote até aqui de mágoa.  Sem candidato a vice, sem partidos que o apoiem além do seu, Ciro enfrenta problemas no seu berço.

O Ceará, que lhe deu a vitória nas eleições passadas, pode não lhe dar este ano. Ao impor a candidatura ao governo do ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio (PDT), Ciro arranjou uma encrenca.

Dois dos irmãos de Ciro discordaram da escolha. A governadora Izolda Cela, candidata à reeleição, desfiliou-se do PDT ao se sentir preterida. E o PT que apoiava Izolda lançou candidato.

Foi ruim para Ciro, que se arrisca a perder para Lula no seu próprio estado. Só falta ficar pior se as próximas pesquisas eleitorais mostrarem que ele continua abaixo dos dois dígitos.

Isso não o impedirá de ser candidato até 2 de outubro, dia do primeiro turno, quando nada para que não digam que fugiu da raia. Salvo o acaso, Ciro já era.

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