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Carlos Bolsonaro dá o tom da reação da direita à voz das ruas

Piedade pelos mortos da Covid-19 ficou de fora das mensagens do Zero Dois e do ministro das Comunicações do governo do seu pai

atualizado

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Ricardo Stuckert
Protesto do dia 19 de junho
1 de 1 Protesto do dia 19 de junho - Foto: Ricardo Stuckert

Pouco importava se as manifestações de rua contra o governo federal fossem grandes ou pequenas, pois elas seriam tratadas da mesma forma pelos devotos do presidente Jair Bolsonaro. Em um mês, foram duas, a segunda bem maior do que a primeira.

O tom da reação da direita à voz das ruas foi dado pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), o Zero Dois, responsável pela comunicação do pai nas redes sociais. E ele escreveu que tudo não passou de mais um ato da esquerda a serviço de Lula.

As manifestações pediram três coisas: mais vacinas, reajuste no valor do auxílio emergencial pago aos brasileiros mais pobres, e o impeachment de Bolsonaro. Elas ocorreram no dia em que o número de mortos pela Covid bateu a triste marca de 500 mil.

As três coisas foram ignoradas por Carlos. Havia ainda pouca gente na Avenida Paulista quando ele postou no Twitter:

“Você não pode vender pastel na rua, mas eles podem sair pra defender ex-presidiário. Entendam: nunca foi por ciência ou saúde! É por poder! Aglomerar hoje não é genocídio. A partir de amanhã volta a ser”.

O regime autoritário que o pai do vereador tenta implantar no país ainda carece de força para proibir manifestações populares de qualquer origem política. Foi às ruas em todas as capitais brasileiras quem quis ir – entre eles, muitos ex-bolsonaristas.

Bolsonaro não usa máscara e tem horror a quem usa. Bolsonaro provoca aglomerações e receita cloroquina que não mata o vírus e deixa sequelas. Bolsonaro prega o desrespeito a medidas de isolamento social e aconselha todo mundo a circular.

O ministro Fábio Faria (PSD-RN), ministro das Comunicações e genro do apresentador de televisão Silvio Santos, sentiu-se liberado por seu chefe direto para percorrer o caminho aberto por Carlos. Então postou no Twitter:

“Em breve vocês verão políticos, artistas e jornalistas ‘lamentando’ o número de 500 mil mortos. Nunca os verão comemorar os 86 milhões de doses aplicadas ou os 18 milhões de curados, porque o tom é sempre o do ‘quanto pior, melhor’. Infelizmente, eles torcem pelo vírus”.

O único bolsonarista a destoar do coro de barbaridades foi o médico Marcelo Queiroga, ministro da Saúde, chamado pelo presidente de “o tal do Queiroga”. Em duas mensagens, ele disse:

“500 mil vidas perdidas pela pandemia que afeta o nosso Brasil e todo o mundo. Trabalho incansavelmente para vacinar todos os brasileiros no menor tempo possível e mudar esse cenário que nos assola há mais de um ano. Presto minha solidariedade a cada pai, mãe, amigos e parentes, que perderam seus entes queridos.”

Bolsonaro vai precisar de centenas de “motociatas” para reunir tanta gente quanto a que esteve, somente ontem, na Avenida Paulista. Na mais recente delas, juntou apenas 6.661 motociclistas que só produziram barulho e interromperam o trânsito.

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