Bombas explodem – uma no mundo e outra aqui no colo de Lula
Uma reeleição que já pareceu mais fácil
atualizado
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Para o mundo, a explosão de grandes proporções registrada ontem foi a popularidade repentina de um aplicativo chinês de inteligência artificial chamado DeepSeek, que derrubou ações de tecnologia e cativou o Vale do Silício, gerando debates nos círculos políticos e da indústria de tecnologia sobre como os Estados Unidos poderão manter sua liderança em IA.
O aplicativo DeepSeek disparou para o topo da tabela de downloads na loja da Apple após seu lançamento na semana passada por uma startup chinesa de mesmo nome fundada em 2023. O aplicativo oferece funcionalidade semelhante ao popular chatbot ChatGPT da OpenAI, respondendo perguntas e gerando texto em resposta às dúvidas do usuário.
Várias empresas de tecnologia que apostaram no aumento do interesse em IA foram liquidadas, com a fabricante de chips norte-americana Nvidia caindo quase 17%, e o índice composto Nasdaq focado em tecnologia caindo 3%. A estreia da DeepSeek aumentou as preocupações sobre a capacidade da China de desafiar a liderança dos americanos em inteligência artificial avançada.
Empresas do setor de IA nos Estados Unidos e na Europa contabilizaram perdas de US$ 1 trilhão em valor de mercado em um único dia, segundo cálculo da agência Bloomberg. O modelo de IA da startup chinesa se destaca como alternativa viável e mais barata de inteligência artificial. Grandes marcas como a Microsoft, a Meta e a Alphabet entraram em pânico.
Para o nosso mundinho particular, porém, a explosão que abalou um início de ano de poucas notícias, de frio para morno, foi a nova pesquisa da Quaest sobre a acentuada queda de popularidade do presidente da República e do seu governo a menos de dois anos das eleições gerais de 2026. Ela acendeu o sinal amarelo com traços de vermelho dentro do Palácio do Planalto.
Pela primeira vez, a desaprovação supera a aprovação e chega a quase metade da população (49%). A percepção negativa sobre a administração foi de 31% em dezembro para 37% e é maior do que a positiva, que caiu de 33% para 31%. A regular passou de 34% para 28%. Lula registra o pior resultado de seu terceiro mandato segundo as pesquisas feitas pelo instituto desde fevereiro de 2023.
Chama atenção a queda da aprovação em todas as fortalezas do voto lulista: Nordeste (67% para 60%), mulheres (54% para 49%), ensino fundamental (60% para 57%), renda de até dois salários mínimos (63% para 56%). A avaliação negativa cresceu em todas as regiões do país, em todos os recortes (renda, escolaridade, gênero, idade, raça e religião) e entre os que votaram em Lula no segundo turno.
Para metade da população, o país está na direção errada. Em dezembro, 46% achavam que o país estava no rumo errado e 43% no certo. Em relação às promessas de campanha, 65% acham que Lula não tem conseguido entregar aquilo que prometeu. O preço dos alimentos dá uma pista sobre por que é assim: 83% dos entrevistados afirmaram que houve aumento no último mês.
Em relação à polêmica envolvendo a tributação de transações via Pix, 66% disseram que o governo errou mais do que acertou e 19% acreditam que ele acertou mais do que errou. A comunicação do governo é malvista: 53% disseram avaliá-la como negativa, 23% como regular e 18% como positiva. A pesquisa foi aplicada junto a 4.500 pessoas entre os dias 23 e 26 de janeiro.
E assim se passaram na opinião da maioria dos brasileiros os dois primeiros anos do terceiro governo Lula. No dia 1º de janeiro, Lula atingiu a metade do mandato. Ao todo, completou dez anos no poder. Apenas o Imperador Pedro II (49 anos) e Getúlio Vargas (19 anos) o superam. Lula vai ter que correr contra o prejuízo se quiser se reeleger. Possível, é. Mas já pareceu mais fácil.
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