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Bolsonaro volta a associar-se ao vírus, desta vez contra as crianças

Culpo o presidente pelo que de mal possa acontecer aos meus netos

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
Fotografia colorida. Adolescentes de camisa azul segurando cartão de vacina em frente a cartaz de posto de vacinação
1 de 1 Fotografia colorida. Adolescentes de camisa azul segurando cartão de vacina em frente a cartaz de posto de vacinação - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Se as crianças são o futuro da Humanidade, como se diz, Bolsonaro ameaça o futuro da parte brasileira da Humanidade ao se opor à vacinação infantil contra a Covid-19. A essa altura, seu desprezo pela vida dos outros deveria já estar saciado com a morte de mais de 617 mil pessoas entre nós, mas pelo jeito não está.

Sou pai de três filhos e tenho seis netos, o mais novo com 4 anos, a mais velha com 13 recém-completados. Atravessei o pior da pandemia em rigorosa prisão domiciliar voluntária. Mantive distância deles porque se disse que as crianças, embora mais resistentes ao vírus, poderiam se tornar inocentes transmissores.

Foram mais de 12 meses sem poder vê-los, abraçá-los e beijá-los nem pensar. Das poucas vezes que os vi, eles ficavam com seus pais no meio da rua, e eu e minha mulher na garagem da casa. Conversávamos aos gritos. Só depois de ter tomado a segunda dose de vacina concordei com a entrada deles no jardim da casa.

Aos poucos, eles começaram a invadi-la, e com a terceira dose, se apoderaram dela. Agora, os papéis se inverteram. Se antes os mais velhos deles manifestavam sua preocupação com a minha e a saúde da avó, somos nós que estamos aflitos com o que lhes possa acontecer. Por que não vaciná-los se seria recomendável fazê-lo?

Mais de 3 mil crianças já foram mortas pela Covid no Brasil. Com os casos de ômicron dobrando a cada dois dias em alguns países, a corrida pela imunização começou nos Estados Unidos e na Europa. Se os 27 países do bloco europeu aceitarem a avaliação dos cientistas, cerca de 27 milhões de crianças serão vacinadas.

Elas recebem uma dose reduzida, um terço da dose autorizada para adultos e adolescentes, com uma segunda injeção três semanas depois. E assim escapam de adoecer, ou de ficar gravemente doentes, ou ainda de poderem infectar outras pessoas. Não quero que nada disso ocorra com filhos e netos de ninguém.

Causa-me nojo ouvir o ministro da Saúde vomitar que “a pressa é inimiga da perfeição“, e que o governo não tem pressa para decidir sobre a vacinação de crianças de 5 a 11 anos. O ministro informou que não recebeu parecer técnico de sua assessoria dando o aval para incluir as crianças no plano de vacinação. Mentira!

Como essa gente mente, e impunemente. Desde outubro, os técnicos do ministério, por unanimidade, têm defendido a aplicação da vacina pediátrica. E na última sexta-feira voltaram a referendar a vacinação. O ministro vale-se de questões burocráticas para protelar o que a Bolsonaro não interessa.

O governo quer mais tempo para decidir, e seu pedido foi atendido pelo ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal. Só a partir do próximo dia 5 se saberá o que será feito. Assim, dá-se mais tempo ao vírus para que se espalhe e contamine quem tiver de ser contaminado, ou mate quem tiver de morrer.

Políticos aliados do presidente da República confessam não enxergar que vantagem política Bolsonaro possa extrair disso. Manter unidos seus devotos mais radicais? Ora, por radicais, não o abandonarão. Não há outro candidato na praça capaz de satisfazer tanto seus instintos mais primitivos e seu desamor pela vida.

Jair já era, o que só faz aumentar seu desejo de vingança. Ao seu modo, o presidente acidental lembra o ditador nazista de trágica memória que antes de se suicidar com um tiro na cabeça, comentou com seus generais que o povo alemão não correspondera às suas expectativas, e que por isso merecia morrer.

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