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Bolsonaro, um pária internacional, fala ao mundo amanhã

Será o primeiro chefe de Estado a discursar em mais Assembleia da ONU, não por mérito, mas por direito adquirido pelo Brasil

atualizado

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Orlando Brito
Protesto
1 de 1 Protesto - Foto: Orlando Brito

A fraude eleita presidente da República em 2018 fez até aqui tudo ao contrário do que prometeu – lutar contra a corrupção, reformar o Estado, criar empregos, governar sem o Centrão, construir uma “sociedade sem discriminação ou divisão” (sim, está no seu discurso de posse) e “proteger a democracia”.

Combater a corrupção virou para ele uma batalha renhida para livrar-se, e também à sua família, do destino trágico da prisão, uma vez que fique sem mandato a partir de janeiro de 2023. Rendeu-se ao Centrão para evitar o impeachment. Se não foi no dia 7 de setembro, será em outro dia que tentará dar um golpe.

Foi com tal pedigree que Bolsonaro desembarcou em Nova Iorque para falar ao mundo amanhã em nome do Brasil na abertura de mais uma Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Estava sem máscara, onde ela é obrigatória. Não se vacinou. Entrou pelos fundos do hotel para não ser hostilizado.

No seu quarto, poderia ter encomendado o que quisesse para comer, mas não. Preferiu comer pizza na calçada de uma rua próxima, de modo a ser fotografado e faturar junto aos que o veem como um homem simples e popular. Simples não é, simplório taokey. Só se preocupa em enganar os que ainda acreditam nele.

É a terceira vez que mentirá do alto da tribuna de maior prestígio entre líderes mundiais. Nisso não difere de muitos dos seus pares. O que fará diferença é que ele não terá na Presidência dos Estados Unidos um aliado para dizer que é seu amigo. Trump referia-se a ele como “Donald Trump dos trópicos”, uma coisa exótica.

Desde que sucedeu a Trump, Joe Biden já conversou com cerca de 30 chefes de Estado, alguns deles de países vizinhos ao Brasil. Com Bolsonaro, nunca. Deixou-o falando sozinho em um evento virtual que o próprio Biden havia convocado. Bolsonaro é um pária internacional, e o Brasil, por tabela, infelizmente é também.

Em 2019, quando pôs os pés pela primeira vez na sede da ONU, obra do arquiteto comunista Oscar Niemeyer, assim como o Palácio do Planalto e demais monumentos de Brasília, Bolsonaro recitou que o Brasil escapara de uma aventura socialista que o empurrou para a beira do abismo. (Por sinal, onde ele está hoje?)

Como se fosse pouco delirou ao atribuir os problemas ambientais do país a “queimadas praticadas por índios e populações locais”, e a denúncias “fantasiosas e sensacionalistas” da mídia irresponsável e de governos estrangeiros interessados em que o Brasil não se desenvolvesse. (Por sinal, as queimadas só crescem.)

O Itamaraty acha que o Brasil atravessa uma crise de imagem e espera que Bolsonaro use seu discurso para ajudar a revertê-la. Sugere que ele dê exemplos de avanços ambientais (como se isso fosse possível), celebre o aumento da taxa de vacinação e reafirme seu compromisso com a democracia (ahahahahah).

Bolsonaro embarcou disposto a falar menos para o mundo, e mais para seus devotos no Brasil, insatisfeitos com seu recente recuo para dar lugar a Jairzinho paz e amor. “Direi boas verdades”, antecipou ele a amigos sem detalhar quais serão. Verdades para Bolsonaro é tudo aquilo que possa circular nas redes a seu favor.

Encontros bilaterais em Nova Iorque com participantes da Assembleia só dois estão confirmados: com o presidente da Polônia e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson. O Secretário-Geral da ONU, o português António Guterres, fará o favor de recebê-lo, o que talvez dispense tradução.

O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, anunciou que a cidade fornecerá testes de covid-19 de graça e doses da vacina da Janssen, de dose única, do lado de fora da sede da ONU. Seria o caso de Bolsonaro aproveitar a oferta, porque dentro do prédio só imunizados poderão transitar livremente.

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