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Bolsonaro sempre tem razão, você é que não o entende direito

Este texto contém ironia e verdades, a critério de quem o leia

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Jair Bolsonaro
1 de 1 Jair Bolsonaro - Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

O presidente Jair Bolsonaro está coberto de razão quando diz que o Brasil jamais teve um ministério como o dele. Ou que nada está tão ruim que não possa piorar.

Às vezes, o que ele fala corresponde de fato ao que pensa. Às vezes, o que pensa é o contrário do que diz. Só uma inteligência superior é capaz de entendê-lo.

Por exemplo: ele não quis dizer que a situação do país está ruim e que poderá piorar. Foi o inverso. Que a situação não está tão ruim e poderia ser pior, mas que irá melhorar.

O que um presidente teria a ganhar se reconhecesse que seu país vai mal e que tende a ficar pior? Ora, estaria dando razão aos seus adversários, e com isso perderia apoio.

Ao dizer que o Brasil jamais teve um ministério como o que tem hoje, ele fez apenas uma constatação. Não emitiu juízo de valor. Que o distinto público tire suas próprias conclusões.

Na nova versão de Jairzinho paz e amor, Bolsonaro foi apenas democrático. Ele já disse que escolheu os ministros entre pessoas do seu relacionamento, como todo presidente costuma fazer.

É por isso que o governo está repleto de militares. Bolsonaro foi criado desde pequeno nesse meio. Sofreu quando o Exército o dispensou. Se não pôde voltar ao quartel, trouxe o quartel para ele.

Como o dono da caneta mais carregada de tinta da República, é razoável supor que ele esteja satisfeito com o ministério que o serve. Quando não esteve, não hesitou em mudá-lo.

Mandou embora Luiz Henrique Mandetta logo no comecinho da pandemia, lembra-se? Trocou-o pelo general Eduardo Pazuello. Tirou Pazuello do Ministério da Saúde e pôs Marcelo Queiroga.

Um médico que endossa as decisões do presidente é melhor do que um general que simplesmente cumpre ordens. Bolsonaro é contra a obrigatoriedade do uso de máscaras. Queiroga também.

Bolsonaro é contra passaporte de vacina. Queiroga, idem. Kit Covid? O Ministério da Saúde não recomenda. Bolsonaro é a favor. Queiroga dá um jeito de não dizer o que pensa disso.

Bolsonaro diz que inflação é um problema mundial. Paulo Guedes, ministro da Economia e às voltas com a descoberta de sua conta bancária em paraíso fiscal, concorda com ele.

Não importa que a alta de preços no Brasil seja a terceira pior do mundo. Deverá fechar 2021 na casa de 7,1%, só abaixo de Argentina e Turquia e o dobro da média dos países do G-20.

A propósito de Guedes: finalmente, ele falou sobre a conta onde guarda um naco de sua fortuna livre de impostos. Falou em inglês. A Câmara quer ouvi-lo, mas de preferência em português.

Bolsonaro vetou a distribuição de absorventes para mulheres vulneráveis. Damares Alves, ministra da Mulher, defendeu o veto. Bolsonaro recuou do veto que o Congresso iria derrubar.

Damares foi pega no contrapé, mas isso é problema dela. O ministro astronauta da Ciência e Tecnologia até pensou em pedir demissão porque cortaram 92% do seu orçamento.

Mas pensou melhor e resolveu não pedir demissão depois de participar de uma cerimônia com jovens cientistas. Não iria abandoná-los justamente em hora de graves dificuldades.

Bolsonaro espelha seus ministros, que por sua vez o espelham. Trate de compreendê-los. O exercício do poder é mais complexo do que aparenta.

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