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Bolsonaro quer os militares como juízes das próximas eleições

O golpe pode se frustar, mas não por falta de planejamento

atualizado

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TSE abTSE abre teste de urnas para hackersre teste de urnas para hackers. Ao todo, 26 investigadores se reunirão no TSE para aplicar 29 planos de ataque às urnas que serão usados nas Eleições Gerais de 2022.
1 de 1 TSE abTSE abre teste de urnas para hackersre teste de urnas para hackers. Ao todo, 26 investigadores se reunirão no TSE para aplicar 29 planos de ataque às urnas que serão usados nas Eleições Gerais de 2022. - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

O que falta para que se acredite que Bolsonaro não reconhecerá os resultados das eleições de outubro próximo se perdê-las? E que imagina contar para isso com o apoio das Forças Armadas? Não vê quem não quer ver, ou é ingênuo, ou cúmplice dele.

Em fevereiro último, a pedido do Tribunal Superior Eleitoral, as Forças Armadas encaminharam propostas para tornar mais seguro o processo eletrônico de votação. Na verdade, foram mais perguntas sobre o processo  do que propostas de alterações.

Ao todo, 80 perguntas, respondidas pelos técnicos do tribunal num relatório de 700 páginas. O senador Alessandro Vieira (PSDB-SE) pediu enviou ofícios ao ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Oliveira, que tornassem públicas as perguntas e as respostas.

Bolsonaro, reunido, ontem, no Palácio do Planalto com parlamentares que o apoiam, depois de voltar a desacreditar mais uma vez o sistema eleitoral, antecipou-se ao general e revelou uma das propostas de alterações sugeridas pelos militares:

“Quando encerra eleições e os dados chegam pela internet, tem um cabo que alimenta a ‘sala secreta do TSE’. Dá para acreditar nisso? Sala secreta, onde meia dúzia de técnicos diz ‘quem ganhou foi esse’. Uma sugestão é que neste mesmo duto seja feita uma ramificação, um pouco à direita, porque temos um computador também das Forças Armadas para contar os votos”.

Dito de outra maneira: a sugestão dos militares, encampada pelo presidente da República, é que às Forças Armadas seja dado acesso direto e simultâneo com o tribunal à apuração dos votos que é feita pelos tribunais regionais eleitorais e repassadas a Brasília.

Em julho do ano passado, após ataque de Bolsonaro ao sistema eleitoral, o tribunal negou a existência de “sala secreta”. Segundo o tribunal, “a apuração dos resultados é feita automaticamente pela urna eletrônica logo após o encerramento da votação.”

“Sala secreta” um modo encontrado por Bolsonaro para lançar suspeição sobre o sistema de votação, é um espaço seguro onde apenas os técnicos responsáveis pela operação são admitidos. Eles não interferem na verdade expressa pelos números computados.

Cabe à Justiça Eleitoral zelar pela integridade e a correção do sistema de apuração de votos, não cabe às Forças Armadas. Foi por meio desse sistema que Bolsonaro se elegeu deputado federal durante quase 30 anos e presidente da República em 2018.

O medo de ser derrotado daqui a pouco mais de 5 meses é o que faz Bolsonaro levantar suspeição sobre o sistema de apuração. Donald Trump, derrotado por Joe Biden, fez a mesma coisa, mas só depois das eleições que estava certo de que ganharia.

Para alarmar ainda mais a sua turma, Bolsonaro advertiu os parlamentares que atenderam ao seu convite para participar de mais um ato de campanha fora de hora e transmitido para todo o país pela televisão do governo:

“Não pensem que uma possível suspeição da eleição vai ser apenas no voto do presidente. Vai entrar no Senado, Câmara, se tiver, obviamente, algo de anormal”.

Quem dirá que houve “algo de anormal”? Ele? As Forças Armadas? E se ele e as Forças Armadas disserem que “algo de anormal” aconteceu, qual a palavra que valerá? A da Justiça Eleitoral atestando a validade dos resultados? A palavra de Bolsonaro e dos militares dizendo o contrário?

O golpe pode não ocorrer, mas desenhado está.

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