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Bolsonaro põe em dúvida a eficácia das vacinas que ele comprou

E volta a defender, sabe-se lá em troca do quê, o uso supostamente milagroso da cloroquina fabricada por empresários bolsonaristas

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Presidente Jair Bolsonaro e o Ministro Marcelo Queiroga durante evento de Assinatura do contrato de transferência de tecnologia da AstraZeneca para a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Brasília.
1 de 1 Presidente Jair Bolsonaro e o Ministro Marcelo Queiroga durante evento de Assinatura do contrato de transferência de tecnologia da AstraZeneca para a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Brasília. - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Falta a CPI da Covid-19 provar que o presidente Jair Bolsonaro boicotou o quanto pode a compra de vacinas? Se faltar, não falta mais depois do que ele repetiu, ontem, ao desautorizar o que havia dito seu ministro da Saúde a menos de 24 horas.

À CPI, Marcelo Queiroga, médico, disse que a cloroquina e outras drogas não têm eficácia comprovada contra o vírus. O mundo sabe disso há muito mais de um ano, mas ainda assim agradece. Queiroga, que não é censor de Bolsonaro, ouviu de volta:

“O tratamento precoce não tem comprovação científica… E eu pergunto: a vacina tem comprovação científica ou está em estado experimental ainda? Está em estado experimental”.

Foi o que disse Bolsonaro durante um evento com igrejas evangélicas em Anápolis, cidade goiana próxima a Brasília. O mundo não agradeceu porque cansou de se horrorizar com as falas do presidente da República do Brasil.

Quer dizer que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, órgão da Saúde, liberou vacinas ainda em estágio experimental? O governo, com atraso, comprou milhões de doses de vacina sem saber se elas funcionam? E os demais países, também?

É nisso que Bolsonaro quer que os brasileiros acreditem. Seus devotos irracionais até poderão acreditar. Parte dos racionais, idem, porque conseguem achar graça do que consideram apenas exageros do presidente. Quem for minimamente informado, não.

A eficácia das vacinas ora em uso foi comprovada em escala planetária. Milhões de testes aplicados confirmam que elas reduzem o número de mortos. Não é questão de fé, mas de ciência. Nada tem a ver com direito à livre manifestação de pensamento.

A terra é plana? Não é. Quem diz que é, mente. No início dos anos 1970, milhões de pessoas duvidavam que o homem tivesse pisado na lua. Hoje, não cabe mais dúvida. Passou o tempo dos ermitões que, isolados do mundo, ignoravam os acontecimentos.

Então, Bolsonaro só pode dizer muitas das coisas que diz com o propósito de enganar e de tirar proveito disso. O Tribunal de Contas da União desmentiu a autoria de um documento sobre a supernotificação do número de mortos pela Covid.

Foi Bolsonaro que espalhou que quase 50% dos pacientes que tiveram sua morte atribuída ao vírus foram a óbito por outras causas. Apócrifo, o documento foi escrito por um auditor bolsonarista do tribunal, Alexandre Marques. Quem vem a ser…

Não só amigo dos três filhos zero do presidente, mas filho de Ricardo Silva Marques, coronel do Exército reformado, da mesma turma de Bolsonaro que se formou em 1977 na Academia Militar das Agulhas Negras, no Rio de Janeiro.

Marques, pai, antes da reforma, ganhou de presente de Bolsonaro um cargo na gerência de inteligência da Petrobras. Marques, filho, enviou para ele o falso documento. Marques, pai, transmitiu-o a Bolsonaro, que o pôs a circular na internet.

Apesar do desmentido do tribunal que abriu processo administrativo e disciplinar contra Marques, filho, afastando-o do trabalho por 60 dias, Bolsonaro voltou a falar de fraude no número de mortos pela Covid. Afirmou em Anápolis:

“Se retirarmos as possíveis fraudes, em 2020 o país teve o menor número de mortos [na pandemia] por um milhão de habitantes. Que milagre foi esse? O tratamento precoce”.

Em três frases, mentiu três vezes. Insistiu com “possíveis fraudes” que não ocorreram; ofereceu a conta falsa do número de mortos por um milhão de habitantes; e atribuiu o resultado ao “milagre” do “tratamento precoce” com drogas ineficazes.

Bolsonaro fez lobby junto ao governo da Índia para que liberasse o insumo necessário à fabricação de cloroquina por duas empresas no Brasil. As duas empresas são de empresários bolsonaristas. A CPI tem documento oficial com a transcrição das conversas.

O que ele ganhou com isso? Uma parte é perfeitamente dedutível: ganhou a desculpa para recomendar a droga e deixar que morressem os que tivessem de morrer, economizando dinheiro. A outra parte… Só o futuro dirá, mas dá para imaginar.

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