Bolsonaro, o inimigo número um da liberdade de imprensa no Brasil
“Quando ouço alguém falar em cultura, saco o meu revólver.” (Hanns Jost, teatrólogo alemão, em peça antinazista de 1933)
atualizado
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Direto ao ponto: embora parte da imprensa não reconheça por medo, cumplicidade ou em troca de favores milionários, o presidente Jair Bolsonaro é hoje seu maior inimigo. Quer dizer: o maior inimigo da liberdade de imprensa no Brasil.
No fim de outubro, em Roma, para o encontro dos chefes de Estado das 20 maiores economias, agentes de segurança de Bolsonaro agrediram jornalistas, e ele disse depois nada ter a ver com isso. Pior: negou ter presenciado o que aconteceu à sua frente.
Desta vez não tem como negar porque há filmes. Uma equipe da TV Bahia, afiliada da TV Globo, foi agredida, ontem, por seguranças e apoiadores de Bolsonaro durante a visita que ele fez às cidades atingidas pelos temporais no extremo sul da Bahia.
A repórter Camila Marinho foi agarrada pelo pescoço por um segurança, como num golpe de “mata-leão”. Outro tentou impedir que os jornalistas apontassem os microfones em direção a Bolsonaro. Ao ser tocado pelos microfones, o segurança ameaçou:
— Se bater de novo, vou enfiar a mão na tua cara. Não bata em mim.
Bolsonaro limitou-se a afagar o ombro do segurança agressor na esperança de acalmá-lo. Na hora, não o repreendeu com a severidade merecida. Em seguida, deu às costas para os jornalistas quando um deles foi atacado por um dos seus apoiadores.
A campanha eleitoral de 2022 sequer começou oficialmente e as coisas já estão assim por culpa exclusiva do presidente da República, que não cansa de mandar os jornalistas calarem a boca, e que já ameaçou “encher de porrada” a boca de um deles.
Bolsonaro quer uma imprensa subserviente que só lhe pergunte o que ele aprecia responder. Uma fatia da imprensa brasileira comporta-se ao seu gosto, mas a maior parte dela, não. O que ele deseja é o que todos os que o antecederam no cargo desejaram.
Mas há uma escandalosa diferença: desde a redemocratização do país em 1985, somente Bolsonaro expressou sua fúria contra os jornalistas e as empresas que os empregam. Somente ele estimulou a violência contra os que se restringem a cumprir seu papel.
Presidentes em apuros tentam confundir-se com o Estado na esperança de ser poupados de críticas. De fato, sua honra é distinta da honra nacional. Eles passam, o país fica. E muitos acabam sendo reduzidos pela História a simples notas de pé de página.
Não será o caso de Bolsonaro. Nunca um presidente eleito diretamente pelo povo fez tanto mal ao Brasil como ele – e isso deve ser estudado em profundidade para que jamais se repita. Acertos não ensinam. Infelizmente, só aprende-se errando.