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Bolsonaro não foi eleito presidente para fazer o que quiser

Em 2018, 147 milhões de brasileiros estavam aptos a votar, e ele teve menos de 58 milhões dos votos. Não foi eleito pela maioria nacional

atualizado

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Eleitor arma de fogo Bolsonaro
1 de 1 Eleitor arma de fogo Bolsonaro - Foto: Reprodução

O jornalismo não é diferente de qualquer outra profissão. Cobra talento, disciplina, paixão, suor e sorte. Em troca, oferece mais frustrações do que êxitos. Mas o jornalismo não é igual a qualquer outra profissão. E tudo por causa de um detalhe crescentemente desvalorizado desde o surgimento das redes sociais: a verdade.

A missão do jornalista é buscar a verdade e oferecê-la ao público de maneira compreensível e honesta. É só para isso que serve. Se o jornalismo serve para outras coisas, não serve ao público. E se não serve ao público, é um simulacro de jornalismo. O jornalismo existe para fiscalizar o Poder sem dó nem piedade, satisfazendo os aflitos e afligindo os satisfeitos.

Mais do que informações, o jornalismo deve transmitir entendimento. Porque é do entendimento que deriva o Poder. Numa democracia, o Poder é dos cidadãos que o exercem regularmente por meio do voto. E para que funcione na sua plenitude, a democracia depende de cidadãos bem informados, aos quais se garanta a liberdade de expressão.

Não é por burrice que Bolsonaro confunde liberdade de expressão com liberdade para divulgar notícias falsas. É por astúcia, astúcia rala. É porque dispõe na internet de uma azeitada máquina de distribuição de mentiras e de ataques à reputação dos seus adversários. Notícia falsa não é notícia errada, é apenas falsa.

Notícia falsa é posta a circular para enganar as pessoas e alcançar determinados propósitos. Por exemplo: aumentar o número de vítimas de uma pandemia. Notícia errada é apenas errada. Se publicada por um jornalista, é corrigida. Se não for, ele perde credibilidade, seu capital. Sem credibilidade, perde importância e emprego. Autores de notícias falsas não perdem nada.

A internet deu voz aos idiotas, observou o filósofo e escritor italiano Umberto Eco, autor do romance “O nome da Rosa”. Atenção! Umberto não disse que os usuários da internet são idiotas, mas que uma parte deles que, antigamente, só se fazia ouvir em pequenos grupos, ganhou uma plataforma que lhe permite falar a multidões.

Respeite-se o direito dos idiotas à livre expressão do pensamento. Mas, combata-se as quadrilhas criminosas que usam as redes sociais para disseminar o discurso do ódio, destruir reputações e deliberadamente desinformar, enfraquecendo a democracia. Pandemia não é uma gripezinha. Cloroquina não cura o vírus.

Todas as pessoas têm direito à própria opinião, mas não têm direito aos próprios fatos, ensinou um senador norte-americano. Fatos são fatos, não escolhas aleatórias. O vírus só poderá ser vencido quando existir uma vacina. É fato! A terra é plana não é fato, é uma escolha aleatória que contraria o fato comprovado de que ela é redonda ou quase isso.

É fato que Bolsonaro foi eleito pela maioria dos brasileiros que votou no segundo turno da eleição de 2018. Como é fato que ele foi eleito por apenas 39% dos eleitores habilitados a votar. Poderiam ter votado 147 milhões, e ele teve menos de 58 milhões dos votos. Ou seja: não foi eleito pela maioria nacional. Não recebeu poder para fazer o que quiser.

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