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Bolsonaro monta palco eleitoral para faturar a morte de petista

É preciso estancar uma eventual sangria de votos

atualizado

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Bolsonaro
1 de 1 Bolsonaro - Foto: Reprodução/vídeo

Nas últimas 72 horas, desde que Marcelo Arruda, policial e tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu, no Paraná, foi assassinado na noite do sábado (9) pelo policial bolsonarista Jorge Guaranho, o presidente da República desperdiçou quatro ocasiões de a 3 meses das eleições pelo menos parecer menos brutal do que de fato é.

Na primeira, domingo (10) à noite, ao invés de prestar solidariedade à família do morto e condenar a violência política ou de qualquer outra natureza, Bolsonaro culpou a esquerda dizer:

“Independentemente das apurações, republico essa mensagem de 2018: dispensamos qualquer tipo de apoio de quem pratica violência contra opositores. A esse tipo de gente, peço que, por coerência, mude de lado e apoie a esquerda, que acumula um histórico inegável de episódios violentos. Que as autoridades apurem seriamente o ocorrido e tomem todas as providências cabíveis, assim como contra caluniadores que agem como urubus para tentar nos prejudicar 24 horas por dia.”


Seguiu seus passos o general Hamilton Mourão, vice-presidente da República, e agora candidato a senador pelo Rio Grande do Sul;

“Olha, é um evento lamentável, que ocorre todo final de semana, em todas as cidades do Brasil, de gente que provavelmente bebe e extravasa as coisas. Todos da área policial, um era guarda municipal, outro era agente penal. Eu vejo de uma forma lamentável. Não, não é preocupante”.

Na segunda-feira (11), Bolsonaro voltou a falar sobre a morte de Arruda no cercadinho de devotos do Palácio da Alvorada:

“O que eu tenho a ver?”

A frase lembra duas outras ditas por ele à época em que a epidemia da Covid-19 passou a matar brasileiros em massa: “E daí?”; “Eu não sou coveiro”. No cercadinho, ele disse mais:

“Quando o Adélio me esfaqueou, ninguém falou que ele era filiado ao PSOL. Agora, o que eu tenho a ver com esse episódio [de Foz do Iguaçu]? Foi uma briga entre duas pessoas”.

Mentiu, para variar. Todo mundo publicou que Adélio Bispo fora filiado ao PSOL, como mais tarde, ao final de três inquéritos, todo mundo publicou que, segundo a Polícia Federal, Adélio agira sozinho, e segundo a Justiça, ele é um desequilibrado mental.

Ontem (13) pela manhã, Bolsonaro tentou transformar em vítima o assassino, que invadiu a festa de aniversário de Arruda atirando, matou-o com dois tiros, levou um de volta, caiu no chão e foi chutado por amigos de Arruda:

“O pessoal da festa, todos petistas, encheram a cara dele [Guaranho] de chute. Se esse cara morre de traumatismo craniano, esses petistas vão responder por homicídio”.  

Não bastasse, culpou o morto:

“O cara que morreu, que estava lá na festa, jogou uma pedra no vidro daquele cara que estava com a arma, depois ele voltou e começou o tiroteio onde morreu o aniversariante.”

Bolsonaro só mudou de comportamento quando descobriu que dois irmãos do petista assassinado são bolsonaristas, um deles evangélico. Os dois não estavam na festa. Embora divergissem politicamente, os três irmãos se davam bem.

Bolsonaro despachou para Foz de Iguaçu o deputado Otoni de Paula (MDB-RJ), vice-líder do governo. E com o sinal verde de Otoni, telefonou para os dois irmãos, lamentou a morte de Arruda e convidou-os a ir a Brasília para uma coletiva de imprensa.

Para a viúva de Arruda, a também policial Pâmela, Bolsonaro não telefonou. Nem para a mãe de Arruda, que disse que seu filho e o assassino nunca haviam brigado antes porque simplesmente não se conheciam. O assassino chegou à festa gritando: “Bolsonaro”.

Arma-se o palco para que os irmãos do morto, devidamente instruídos por assessores de Bolsonaro, falem à imprensa o que lhes mandarem falar. Por que não será dada voz à viúva e a outras testemunhas do crime? Para que não contem a verdade.

A delegada que começou a investigar o crime foi afastada porque é bolsonarista de quatro costados. Políticos de oposição ao governo reuniram-se com Augusto Aras, Procurador-Geral da República, e pediram-lhe que federalizasse a investigação.

Saíram do encontro sem resposta. Aras preferiu dissertar sobre a facada que Bolsonaro levou em Juiz de Fora, vai fazer quatro anos, e sobre as ameaças que ele, Aras, recebe via redes sociais. Bolsonaro está em débito com Aras, seu maior advogado de defesa.

E o Brasil, em débito consigo mesmo por ter eleito Bolsonaro.

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