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Bolsonaro, Michelle e Ribeiro não veem nada demais no que fazem

No meio em que vivem, tudo é muito natural

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Bolsonaro e Milton Ribeiro assinam novo reajuste para professores da educação básica 6
1 de 1 Bolsonaro e Milton Ribeiro assinam novo reajuste para professores da educação básica 6 - Foto: null

O que fez de errado o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, pastor evangélico, para que acabasse forçado a pedir demissão? Para Jair Bolsonaro, nada, simplesmente nada. Bolsonaro disse que poria sua cara no fogo se Ribeiro não fosse inocente.

Michelle, a primeira-dama, não foi tão longe como o marido, dado a exageros. Mas fez tudo para que Ribeiro não deixasse o governo. Uma vez que deixou, disse que ele terá a oportunidade de provar que é honesto e que não infringiu a lei dos homens ou de Deus.

Na sua carta original de demissão, antes que dela fosse eliminado o trecho sobre seu possível retorno ao cargo, Ribeiro escreveu:

“Meu afastamento é exclusivamente decorrente de minha responsabilidade política, que exige de mim um senso de país maior que quaisquer sentimentos pessoais. Assim sendo, não me despedirei, direi até breve, pois, depois de demonstrada minha inocência, estarei de volta para ajudar meu país e o presidente”.

Ou seja: Ribeiro não viu nada demais em Bolsonaro ordenar que ele permitisse o acesso de dois pastores ao dinheiro do Fundo Nacional de Educação. E que o acesso tenha resultado em cobrança de propinas por parte dos pastores.

Também não deve ter visto nada demais em um dos pastores inserir fotos dele, Ribeiro, em edições da Bíblia vendidas a fiéis. Ribeiro só pediu demissão porque seu “senso de país” foi maior do que “quaisquer sentimentos pessoais”. Admirável!

É compreensível que o ex-ministro, o presidente da República e a primeira-dama pensem e ajam dessa maneira. No meio em que eles vivem nada disso configura crime, ato imoral ou desrespeito aos costumes, pelo contrário. São coisas perfeitamente naturais.

Dono de um imóvel em Brasília à época de deputado, Bolsonaro usava um apartamento da Câmara para “comer gente”, ele admitiu. No seu gabinete, empregava funcionários fantasmas e ficava com parte do salário pago aos que de fato trabalhavam.

Foi ele que escalou a ex-mulher, a advogada Ana Cristina Valle, para que reproduzisse o esquema no gabinete dos filhos Flávio e Carlos. Como escalou mais tarde Fabrício Queiroz, seu amigo de farda no Exército, para operar a rachadinha no gabinete de Flávio.

O papel de Michelle no governo ainda está por ser esmiuçado. Ela influencia decisões e manda mais do que parece. E não se acanha de encaminhar pedidos de empréstimos junto à Caixa Econômica Federal para beneficiar seus amigos e prestadores de serviços.

Em Roma, portanto, como os romanos.

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