Bolsonaro está dispensado de renovar seu ódio e nojo a democracias
Presidente volta a minimizar a censura à imprensa à época da ditadura militar de 64 que também torturou e matou
atualizado
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Jairzinho paz e amor, fantasia vestida pelo presidente Bolsonaro, está com os dias contados à medida que aumentam as dificuldades do seu portador para se reeleger ano que vem. Se Lula é cobrado a expressar seu ódio e nojo a ditaduras, Bolsonaro sente-se outra vez à vontade para renovar seu horror a democracias.
Em entrevista à Rede Correio Sat, da Paraíba, Bolsonaro voltou a justificar a censura à imprensa durante a ditadura militar de 64, que também torturou e matou adversários. Disse que a censura foi menos grave que ações recentes do Tribunal Superior Eleitoral contra os críticos da urna eletrônica e órfãos do voto impresso:
“É um absurdo o que acontece por aí nessas questões. Você pode criticar tudo, o Papa, quem você bem entender. Agora, não pode criticar um sistema eleitoral?”
O presidente não se conforma com as decisões do tribunal de desmonetizar perfis nas redes sociais que promovem fake news e cassar o mandato do deputado estadual Francisco Francischini (PSL-PR), autor de um vídeo com acusação sem provas de fraude nas urnas eletrônicas. Fala Bolsonaro:
“Esse tipo de censura não existia no período militar. O que não era permitido, muitas vezes, era uma matéria ser publicada, daí o pessoal botava [no lugar] uma receita de bolo ou [deixava o] espaço vazio”.
Os textos eram vetados pelo governo, segundo Bolsonaro, por serem usados para dar recado: “É porque davam recados para os seus comparsas no Brasil através daquele tipo de matéria. Então por isso que houve a censura naquele momento. Mas nem se compara com o que está acontecendo no momento aqui”.
De fato, nada se compara. Na ditadura, não só a imprensa, mas todo tipo manifestação cultural foi censurada. Jornalistas foram presos por desobedecer a ordens da censura, e um deles, Vladimir Herzog, morreu sob tortura em dependências do Exército, em São Paulo. O eclipse da liberdade no país durou 21 anos.
Bolsonaro é admirador confesso do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o único oficial do Exército condenado por ter sido torturador. Bolsonaro chegou a propor que o Enem deste ano tratasse o golpe militar de 64 como uma “revolução”. Não deu, mas quem sabe ele não consegue no próximo?