Bolsonaro espera novas decisões da Justiça que o contrariem
E se diz capaz de desrespeitá-las se for o caso
atualizado
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A mentira é mãe do blefe, e o presidente Jair Bolsonaro, admita-se, mente e blefa com a mesma naturalidade com que respira. Emparedado pelo Supremo Tribunal Federal depois de ter anunciado que não haverá eleições no próximo ano sem voto impresso, passou a dizer a seus confidentes que não respeitará mais decisões judiciais que o contrariem.
Nesse caso, não mente, apenas blefa, mas preocupa os que não sabem distinguir entre uma coisa e outra. Bolsonaro mente quando afirma que o voto eletrônico facilita fraudes. A verdade é outra. O que facilita fraudes, como demonstrado desde a introdução do voto secreto, é o voto impresso. Em 25 anos de voto eletrônico, não há registro de fraudes. Bolsonaro se elegeu por ele.
O presidente blefa quando sucumbe a explosões de raiva e diz o que jamais fará. Ele procedeu assim dezenas de vezes desde que assumiu o cargo. Numa delas, convocou alguns dos seus ministros e anunciou que se rebelaria contra a decisão do ministro Alexandre de Moraes que suspendeu a nomeação do delegado Alexandre Ramagem para superintendente da Polícia Federal.
Ramagem é da copa e cozinha da primeira família presidencial brasileira. Foi ele que cuidou da segurança de Bolsonaro depois da facada de Juiz de Fora. Com a saída do ex-juiz Sergio Moro do Ministério da Justiça, Bolsonaro enxergou a oportunidade para intervir diretamente na Polícia Federal, desejo que acalentava há muito tempo. Alexandre de Moraes o impediu.
Quem se reuniu com ele naquele dia ficou assombrado. Ele se dizia disposto a mandar fechar o tribunal. Conversou a respeito com chefes militares, que o desaconselharam a fazer isso. Como se fosse possível fazê-lo, salvo se quisessem romper com a ordem democrática, o que não fazia sentido e continua sem fazer. O novo blefe dele se revelará mais um qualquer hora dessas.
Os chefes militares concordam com Bolsonaro que o Supremo exorbita dos seus poderes e o impede de governar; que abriga ministros corruptos e de esquerda responsáveis pela reabilitação política do ex-presidente Lula. Daí a eles ultrapassarem a fronteira da legalidade há uma distância que não querem percorrer. Golpe sem amplo apoio popular é uma aventura destinada ao fracasso.
No alto comando da campanha de Lula, há muita gente que já trabalha com o cenário do declínio das chances de Bolsonaro se reeleger e da ascensão de um nome que possa se afirmar como candidato que venha mais adiante a atrair os votos da banda mais à direita da direita. É o cenário que mais aflige Lula e seus aliados incondicionais. Sem Bolsonaro, tudo poderia se inverter.
O PT fala em impeachment, mas não quer. Pressiona a Justiça contra Bolsonaro, mas não quer que ela o enfraqueça a ponto de inviabilizá-lo como candidato. A recíproca é a mesma – Bolsonaro precisa de Lula como espantalho para que ele não se esfarele. A polarização é vital para os dois, embora possa não ser a melhor saída para o país. Definitivamente, não seria a melhor.