Bolsonaro e Putin, tudo a ver
Moscou virou a Meca da direita extremista que ameaça o mundo
atualizado
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Eu tinha 13 anos de idade quando o mundo viveu 13 dias à beira de um conflito entre as duas maiores potências atômicas da época – os Estados Unidos e a União Soviética. Tive ideia do que acontecia pelo meu professor de história do Colégio Salesiano, no Recife, e ouvindo por trás das portas as conversas dos meus pais.
Descobriu-se uma base de mísseis soviéticos em Cuba, e os americanos não poderiam admitir uma ameaça como aquela na ilha que fora um dia o seu bordel. Quando a guerra parecia iminente, os soviéticos concordaram em retirar os mísseis em troca de desmonte de bases americanas perto de suas fronteiras.
Estou com 72 anos e ouço outra vez falar que o Armagedom pode estar logo ali, basta que Vladimir Putin, presidente da Rússia, aperte um botão. O físico alemão Albert Einstein, em 1949, disse não saber como seria a terceira guerra mundial, mas uma coisa ele sabia: a quarta seria travada com paus e pedras.
Há um documentário sobre Putin no Prime Vídeo; recomendo aos interessados em conhecer melhor o homem que poderá despachar a humanidade para outro mundo, caso ele exista. Putin comporta-se como um Messias a quem foi dada a tarefa de salvar a Rússia dos que querem destruir seus valores tradicionais, mas não só.
Também dos que querem impor aos russos “seus falsos valores que nos destruiriam nosso povo por dentro, atitudes que vêm impondo agressivamente em seus países, atitudes que levam diretamente à degradação e à degeneração, pois são contrários à natureza humana”. Você já ouviu algo parecido com isso?
Viktor Orban, na Hungria, Narendra Modi, na Índia, Erdongan, na Turquia, Nicolás Maduro, na Venezuela, e Trump nos Estados Unidos são líderes dos seus povos que compartilham as ideias de Putin. Está sentindo falta de um nome? Jair Bolsonaro reza pelo mesmo breviário. São inimigos da democracia.
Recentemente, Bolsonaro repassou para grupos de WhatsApp um texto apócrifo sob o título “USA não é mais uma nação virtuosa”. O texto alerta: “O comunismo tem outro nome, se chama Progressismo e seu berço é a Europa”. Alguns dos seus trechos delirantes e mal escritos:
“Só existe a Rússia, a China e a Liga Árabe capaz de enfrentar a NOM (Nova Ordem Mundial). O Brasil está no radar da NOM e de toda a esquerda. Três ministros do STF e a mídia brasileira (via fraude eleitoral) estão prontos a entregá-lo pela metade do preço que o presidente da Ucrânia entregou seu país.”
“O comunismo se transmutou, voltou para o seu berço europeu, agora não prega mais lutas de classes e sim pautas, como as do preconceito, minorias, sexuais, machismo… Prega a morte de Deus e a submissão de todas as nações a uma minoria com poder e dinheiro capaz de submeter toda a humanidade!”
“Os mesmos que desejam que o presidente brasileiro tome uma posição firme no conflito Rússia X Ucrânia, são aqueles que desejam tomar de nós a Amazônia”.
E a cereja do bolo:
“Se Bolsonaro não tivesse corrido para fazer aliança com Putin (fertilizantes…), nem eleições teríamos”.
Havana já foi a Meca dos que sonharam em implantar uma democracia de esquerda no Brasil com forte viés autoritário. Os militares se anteciparam e tivemos uma ditadura por 21 anos. Moscou, que já foi a Meca do comunismo, agora virou a cidade sagrada dos nacionalistas, populistas, chauvinistas e misóginos.
É por isso que Bolsonaro tem tudo a ver com Putin.