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Bolsonaro é candidato a ser réu confesso por fraude eleitoral

A Justiça finge-se de cega para não puni-lo

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O presidente Jair Bolsonaro comendo pastel, em uma barraquinha do Sudoeste, em Brasília
1 de 1 O presidente Jair Bolsonaro comendo pastel, em uma barraquinha do Sudoeste, em Brasília - Foto: Mayara Oliveira/Metrópoles

Como o governo perdeu a batalha pela recuperação da economia este ano, resta-lhe a derrama de dinheiro em obras, reajustes de salários, pagamento de benefícios e a compra direta de votos para reduzir a rejeição de Bolsonaro até agosto quando oficialmente a campanha terá início, levando-o assim a disputar em melhores condições com Lula o segundo turno da eleição presidencial.

O percentual dos brasileiros que dizem que não votarão em Bolsonaro de jeito nenhum é de 55%, segundo a pesquisa Datafolha de março; o de Lula, 37%. Lula demora a sair da toca para percorrer o país à caça de votos; teme ser punido se suas ações foram entendidas como campanha antes da hora. Bolsonaro não está nem aí para isso, e o Estado paga todas as suas despesas.

O Tribunal Superior Eleitoral finge ser cego para não ver que Bolsonaro exorbita. Enquanto a toga, desafiada, reage como se usasse luvas de pelica, Bolsonaro, o desordeiro treinado em brigas de rua, aplica-lhe golpes com soco inglês, uma arma de metal que serve para aumentar o ferimento no alvo atingido por ela. É uma luta desigual entre Bolsonaro e a Justiça, Bolsonaro e Lula.

O WhatsApp e o Tribunal Superior Eleitoral firmaram um acordo para tornar as eleições de outubro menos sujas. Ficará para depois do segundo turno o lançamento no Brasil da nova ferramenta do aplicativo que amplia o alcance da distribuição de mensagens em massa. Com isso, pretende-se reduzir a disseminação de notícias falsas e os ataques virtuais durante a campanha.

Ninguém reclamou. Ninguém, não. Na última sexta-feira, irritado com o fracasso da motociata que liderou em São Paulo, 40% menor do que a anterior, Bolsonaro disse que o acordo “é inadmissível, inaceitável e não vai ser cumprido”. Oi! Que autoridade ele tem para declarar extinto um acordo firmado por outro Poder com uma empresa privada? Ou para dizer que irá desrespeitá-lo?

Bolsonaro comporta-se como um marginal, um criminoso que se julga acima da lei, e que tem a certeza de que ficará impune. Da mesma forma que “Colorido”, codinome de Valdeci Alves dos Santos, um dos líderes mais procurados do Primeiro Comando da Capital (PCC), a mais poderosa facção do crime organizado no país. Com duas diferenças, naturalmente. A saber.

“Colorido” vivia escondido com a polícia em seu encalço. Em fuga permanente, acabou preso pela Polícia Rodoviária Federal em Salgueiro, sertão de Pernambuco. Bolsonaro não precisa se esconder ainda. Seu endereço é o mais conhecido do país. Na pior das hipóteses permanecerá solto pelo menos até o fim do seu mandato. É o que determina a lei.

Neste sábado, enquanto a polícia planejava a transferência de “Colorido” para São Paulo, onde cumprirá pena, Bolsonaro, outra vez de folga na praia do Guarujá, voltou a falar mal da Justiça e a expressar sua contrariedade com o WhatsApp: “Se eles podem fazer um acordo desses com o Tribunal Superior Eleitoral, podem fazer comigo também, por que não? Comigo, com você”.

Nunca se viu um presidente confessar com tal espontaneidade seu desejo de corromper os resultados de uma eleição.

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