Bolsonaro dá a Pazuello a missão de inocentá-lo no caso da Covaxin
Manda quem pode, obedece quem tem juízo, e outra vez o general sairá em socorro do ex-capitão eleito presidente da República
atualizado
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Na noite da última quarta-feira, o presidente Jair Bolsonaro convocou às pressas para uma reunião o general da ativa Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, agora com gabinete no Palácio do Planalto, embora, ali, não tivesse posto os pés desde que nomeado para a nova boquinha. Bolsonaro estava visivelmente nervoso.
Quis discutir com o general a história da compra da vacina indiana Covaxin contra a Covid-19, o mais novo escândalo de corrupção a atingir seu governo. O anterior havia resultado naquele dia na demissão de Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, acusado de contrabando de madeira da Amazônia para os Estados Unidos.
Bolsonaro e Pazuello conversaram por quase uma hora, e o general foi embora com a missão de confirmar, se indagado a respeito, que o presidente consultou-o, sim, sobre a suspeita de que algo de podre havia no processo de compra da vacina, e que ele, depois de investigar o assunto, respondeu-lhe que não. Estava tudo ok.
O que não faz um general obediente às ordens de um ex-capitão, afastado do Exército por má conduta, mas que se elegeu presidente com o apoio das Forças Armadas! Pazuello demitiu-se do Ministério da Saúde sugerindo que sofreu pressões para aprovar negócios escusos. Falou até em “pixulé”, que significa trapaça.
Vai ter que engolir o que disse, como antes teve que engolir as mentiras que se sentiu obrigado a dizer à CPI da Covid para salvar o mandato do presidente em apuros. Porque se restar provado que Bolsonaro ouviu a denúncia dos irmãos Miranda sobre a jogada suja da compra da vacina e nada fez, ele prevaricou.
E se prevaricou, arrisca-se a ser atropelado por um processo de impeachment. Em sua live semanal das quintas-feiras no facebook, Bolsonaro admitiu que foi procurado pelos irmãos Miranda, mas não entrou em detalhes sobre a denúncia que eles lhe apresentaram pessoalmente. E que pode ser resumida no seguinte.
Luís Miranda, servidor do Ministério da Saúde, contou a Bolsonaro que foi pressionado a autorizar a importação de um lote da Covaxin, que além de custar 50% mais que a vacina da Pfizer, estava com data de validade próxima do vencimento, implicava em pagamento antecipado e feria as regras da Anvisa.
Com meia dúzia de telefonemas, se muito, Bolsonaro poderia ter tirado a limpo a denúncia. Descobriria, se ainda não soubesse, que o líder do seu governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PP-PR), correu a aprovar uma emenda destinada a resolver um dos empecilhos legais para a importação da vacina
E mais: que Barros responde a um processo sob a acusação de favorecer a Global Saúde, sócia da Precisa, empresa que mediava a venda da vacina ao governo brasileiro; e que uma funcionária do Palácio do Planalto, de nome Thais Amaral Moura, era uma das intermediárias do governo no negócio com a Precisa.
Os irmãos Miranda irão depor, esta tarde, à CPI. Luis Miranda, não o servidor, mas o deputado federal do DEM, diz ter munição para derrubar a República. A tropa de choque do governo está pronta para responder que Bolsonaro informou a Pazuello sobre o que se passava, mas que nada de errado se passou de fato.
O mais longo dos dias para o presidente da República está longe de terminar.