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Bolsonaro caça votos no Nordeste à falta do que fazer em Brasília

Em Alagoas, chamou Lula de “ladrão de nove dedos” e Renan Calheiros de “vagabundo” e “picareta”. Quer distância dos desafios que seu governo

atualizado

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Alan Santos/PR
Collor e Bolsonaro
1 de 1 Collor e Bolsonaro - Foto: Alan Santos/PR

O silêncio barulhento que fez, anteontem, quando depunha à CPI da Covid-19 o contra-almirante Barra Torres, presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que o contrariou, e sua verborragia, hoje, em viagem a Alagoas, depois do depoimento de Fábio Wajngarten, ex-Secretário de Comunicação do governo, dão a medida do momento difícil que Bolsonaro atravessa.

A CPI avança na descoberta e na costura de fatos graves que reforçam o sentimento geral de que o governo deu passe livre ao vírus para que circulasse à vontade, matando quem tivesse de matar, e infectando os sem sorte. Bolsonaro quis acreditar que a pandemia só cederia com a contaminação de 70% das pessoas. Daí a falta de pressa para comprar vacinas. Deu no que deu.

Não bastasse, a primeira pesquisa presencial de intenção de votos revelou que se a eleição de 2022 ocorresse hoje, Bolsonaro perderia de longe para Lula no primeiro turno e no segundo. Perder logo para quem ele voltou a chamar de “aquele ladrão de nove dedos”, apoiado pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL)  que Bolsonaro chamou de “picareta” e “vagabundo”? Impensável!

Bolsonaro não se conforma, jamais se conformará. Por isso, à falta do que fazer em Brasília porque não gosta do que fazer e não sabe o que fazer para superar os desafios que seu governo enfrenta, Bolsonaro viaja, viaja muito pelo país, duas vezes, às vezes três por semana ao Nordeste, à caça de votos. Ouvir das claques de aluguel o grito de Mito, Mito, é um bálsamo para sua alma.

O Nordeste é fortaleza de Lula. Ali, os que o rejeitam dizendo que jamais votarão nele são 23%, contra 62% de Bolsonaro. O presidente acha que sua rejeição diminuirá se ele der especial atenção ao Nordeste e a prorrogação do pagamento do auxílio emergencial produzir efeitos. É provável que sim, mas não há garantia. O Nordeste guarda boas lembranças dos governos Lula.

Esta é a principal vantagem de qualquer ocupante de cargo público com direito à reeleição sobre seus eventuais adversários: com tudo pago, com o apoio da máquina administrativa, está em campanha permanente e a salvo da lei que estipula quando uma campanha deve começar. Para Bolsonaro, ela começou no primeiro dia em que vestiu a faixa presidencial há mais de dois anos.

Dará certo? Vai depender da memória da mortandade da pandemia. De um amigo, hoje, durante almoço em Brasília, Gilberto Kassab, presidente do PSD, ouviu: “Votei em Bolsonaro, mas não votarei mais porque o vírus matou meu pai, e eu devo essa homenagem a ele”. Enquanto isso, na CPI da Covid, Carlos Murillo, presidente da Pfizer na América Latina, dizia que…

Que o governo brasileiro ignorou 3 ofertas para aquisição de vacinas em agosto do ano passado. Segundo Murillo, sua empresa fez 5 ofertas formais de venda da vacina em 2020 e duas este ano, até fechar o contrato na sétima proposta. O preço da dose não mudou. Se um dos acordos tivesse sido fechado, o país receberia até o segundo trimestre de 2021 cerca de 18,5 milhões de doses.

Murillo confirmou que, enquanto o governo ignorava as ofertas, a Pfizer enviou uma carta endereçada a Bolsonaro e ministros de Estado pedindo mais rapidez nas negociações. Por dois meses, a carta não foi respondida. De pelo menos uma reunião com representantes da Pfizer, participou o vereador Carlos Bolsonaro, o Zero Dois do presidente, sem cargo formal no governo.

A CPI avalia se deverá ou não convocar Carlos para depor. Dado ao temperamento irascível do vereador, seria um depoimento e tanto, sem desfecho previsível. Mais um campeão de audiência das tardes dos brasileiros em prisão domiciliar voluntária.

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