Bolsonaro blinda Pazuello, que blinda Bolsonaro. Simples assim
Os dois se equilibram na corda bamba enquanto a plateia da CPI da Covid acompanha interessada os movimentos de cada um
atualizado
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Não foi só a imagem de honradez dos militares que o general Eduardo Pazuello pôs em xeque com seu comportamento suspeito como ministro da Saúde, mas também a inteligência.
Jair Bolsonaro blinda Pazuello, que blinda Bolsonaro. O general não deve ter-se dado conta que ao fim e ao cabo, mesmo que à sua revelia, serviria de escudo humano para proteger o ex-capitão.
De fato, foi para isso que ele serviu quando ministro, e agora serve como aspone com direito a gabinete no Palácio do Planalto. Aspone quer dizer assessor de porra nenhuma.
Uma vez que a desobstrução do intestino dispensou-o por ora de ser operado pela sétima vez desde a facada de Juiz de Fora, Bolsonaro sentiu-se à vontade para voltar a cagar regras.
Contra a Covid-19, deve-se tomar proxalutamina, prescreveu, uma nova droga capaz de rivalizar com a cloroquina, embora as duas sejam claramente ineficazes, mas o que vale é ter fé.
Bolsonaro definiu Brasília como “um paraíso de lobistas, de picaretas”, e também de “tudo que há de ruim no Brasil”. Foi ingrato com a cidade onde vive há mais de 30 anos.
Ensinou que quando se fala em propina, “é pelado [nu] e dentro da piscina”. Defendeu Pazuello e desafiou os céticos: “Acredite quem quiser: nosso governo não gastou um centavo com picareta”.
Se ele tivesse estado na Saúde ao invés do general, teria “apertado a mão daqueles caras todos” filmados na companhia Pazuello depois de lhe oferecer a vacina Coronavac pelo triplo do preço.
Por fim, sacou um argumento singular para atestar a honestidade do general: estavam todos de pé no vídeo; se fosse uma negociação, estariam sentados em torno de uma mesa. Taokey?
“Aqueles caras todos” eram representantes de uma empresa de Santa Catarina importadora de objetos eróticos, cujo dono foi processado e condenado por realizar trambiques.
O vídeo prova que Pazuello mentiu à CPI da Covid ao dizer que nunca participou de negociações para a compra de vacinas, pois isso não lhe caberia como “ministro e decisor”.
Bolsonaro e Pazuello formam um casal perfeito a essa altura das investigações sobre o modo como o governo conduziu o combate à pandemia. Ressalte-se: um casal hétero, naturalmente.
Um defendeu o outro no passado recente, e agora é o outro que defende o um. Assim vão se equilibrando na corda bamba sob o olhar atento da plateia que acompanha as sessões da CPI.
O fim do número dará muito que falar.