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Bolsonaro atravessa o mundo para encontrar irmão de fé, camarada

Órfão de Trump, ele procura Orbán, o primeiro-ministro da Hungria

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O presidente Bolsonaro e o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, se despedem com um abraço após uma coletiva de imprensa. Ambos são brancos, Bolsonaro tem cabelo castanho e Orban, branco. Ao fundo a bandeira do Brasil - Metrópoles
1 de 1 O presidente Bolsonaro e o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, se despedem com um abraço após uma coletiva de imprensa. Ambos são brancos, Bolsonaro tem cabelo castanho e Orban, branco. Ao fundo a bandeira do Brasil - Metrópoles - Foto: Marton Monus/picture alliance via Getty Images

Sempre se poderá dizer que Bolsonaro foi à Rússia porque se trata de uma das maiores potências do mundo, com assento permanente e poder de veto no Conselho de Segurança da ONU. Não é pouca coisa. Todos os presidentes eleitos que o antecederam no cargo foram até lá apertar a mão de Vladimir Putin e posar para fotos.

Mas por que ele foi o primeiro presidente brasileiro a visitar a Hungria? Por causa do seu espírito desbravador? Não é uma de suas marcas. Por que a Hungria é um importante parceiro comercial do Brasil? No ranking dos países que mais compram produtos do Brasil, a Rússia está em 36º lugar, e a Hungria, em 104º.

Budapeste, capital da Hungria, faz parte da lista das 10 cidades mais bonitas do mundo, mas Bolsonaro não teve tempo de conhecê-la. Seu único objetivo era reunir-se com o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, referência planetária da extrema direita, a quem chamou de “irmão”. Irmão de fé.

Orbán faz por merecer a admiração e a inveja de Bolsonaro, órfão de quem possa inspirá-lo desde que Donald Trump, a quem chamava de amigo, foi derrotado por Joe Biden, atual presidente dos Estados Unidos. Biden é um democrata, Trump tentou dar um golpe. Bolsonaro custou a reconhecer a vitória de Biden.

Espelhar-se em quem? Ora, em Orbán, no cargo desde 2010, que vem acumulando poderes por meio de uma guinada autoritária. É um caso de sucesso. Chegou onde está via eleições que respeitaram as regras do jogo, assim como Hitler na Alemanha. Hoje, controla com mão de ferro o Judiciário, o Legislativo e a imprensa.

Reportagem da BBC de Londres destaca que Orbán trocou centenas de juízes por aliados, mudou a lei eleitoral para beneficiar seu partido, transformou centenas de jornais independentes em máquinas de propaganda do Estado e chegou a reimprimir livros didáticos de História, com conteúdo considerado xenofóbico.

O primeiro-ministro húngaro foi um dos poucos líderes europeus presentes na posse de Bolsonaro. Três meses depois, ele recebeu o deputado Eduardo Bolsonaro em Budapeste. Por violar valores democráticos, a União Europeia já bloqueou 7 bilhões de euros em verbas para a Hungria. Orbán não está nem aí para isso.

Em discursos afinados, Orbán e Bolsonaro usaram o lema de origem fascista “Deus, pátria, família e liberdade”, também usado no Brasil pelo Movimento Integralista em meados dos anos 1930, e em Portugal pela ditadura de Alfredo Salazar. Se comparado com Orbán, Bolsonaro não passa de um aprendiz de golpista.

As condições para um golpe no Brasil ainda não estão dadas, mas Bolsonaro tem esperança de criá-las até outubro. Não se deve subestimá-lo.

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