Bolsonaro anuncia um novo ensaio de golpe antes de viajar aos EUA
Atrás de mais confusão e de uma foto
atualizado
Compartilhar notícia
No último dia 30 de janeiro, há 80 anos, um grupo de cearenses vaiou o sol na Praça do Ferreira, centro de Fortaleza. O episódio foi registrado em livros, músicas e peças de teatro.
Era um dia nublado de 1942, um ano particularmente seco no Nordeste. Havia nuvens carregadas de chuva, mas, de repente, o sol brilhou. Por causa disso levou uma vaia memorável.
Bolsonaro, sempre que se vê em apuros, sugere que poderá haver um golpe caso não se reeleja. Voltou, ontem, a falar sobre isso. Se perder e não houver golpe, arrisca-se a ser vaiado.
Em entrevista ao SBT (nada a ver com Sistema Bolsonarista de Televisão), ele disse que seus apoiadores já organizam uma nova manifestação de 7 de setembro. Foi ele que a encomendou.
A do ano passado não deu em nada. Mais de 70 homens garantiram em Brasília a segurança do prédio do Supremo Tribunal Federal. Manifestantes ameaçavam atacá-lo.
Na Avenida Paulista, em discurso para milhares de devotos, Bolsonaro chamou de “canalha” o ministro Alexandre de Moraes e disse que não mais obedeceria às suas ordens.
Aconselhado pelo ex-presidente Michel Temer (MDB), recuou menos de 48 horas depois, assinou uma carta pedindo desculpas, e por um breve momento vestiu a fantasia de Jairzinho Paz e Amor.
Os bolsonaristas detestaram e a fantasia acabou arquivada. Bolsonaro afirma que só assinou a carta porque Alexandre lhe prometeu coisas que não entregou. Foi desmentido por Temer.
Bolsonaro viaja, hoje, aos Estados Unidos para participar da Cúpula das Américas convocada pelo presidente Joe Biden. Vai atrás de uma foto com Biden para mostrar que não está isolado.
Um dos últimos chefes de Estado a cumprimentar Biden pela vitória, órfão confesso de Donald Trump, seu ídolo, Bolsonaro teve uma ideia antes de voar: falar mal de Biden. Deve fazer sentido.
Voltou a levantar dúvidas sobre a legitimidade da eleição de Biden:
“Olha, quem diz é o povo americano. Não vou entrar em detalhes. Trump estava muito bem. E muita coisa chegou para a gente, e a gente fica com o pé atrás. A gente não quer que aconteça isso no Brasil. Tem informação de brasileiros, de que teve gente que votou mais de uma vez por lá”.
Bolsonaro só decidiu ir para a Cúpula das Américas após receber um enviado especial de Biden que lhe ofereceu uma reunião bilateral às margens do evento. Ele fez a concessão de aceitar:
“Eu não ia ser moldura de retrato para ninguém. Tínhamos um bom relacionamento com o governo anterior, de Trump. Quando Biden assumiu, ele congelou esse relacionamento. Não brigamos. Agora, um evento sem o Brasil é bastante esvaziado.”
Perguntado o que espera da reunião, especulou:
“Ele não vai querer impor algo sobre o que eu devo fazer na Amazônia. Ele deve ter informações, me conhece. Não podemos relativizar a nossa soberania. Ninguém está interessado em girafa e nem hipopótamo da Amazônia, mas em outras coisas”.
Não há registro de que girafas e hipopótamos tenham habitado a Amazônia em tempos imemoriais. Também não havia registro de que um homem tão ignorante tivesse presidido o Brasil. Agora, há.