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Bolsonaro, Anderson Torres e Mauro Cid, peças de um enredo infame

Acareação para saber quem mente

atualizado

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Breno Esaki/Especial Metrópoles
Bandeira do Brasil atrás de janela quebrada - Metrópoles
1 de 1 Bandeira do Brasil atrás de janela quebrada - Metrópoles - Foto: Breno Esaki/Especial Metrópoles

Como Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, se eu recebesse uma minuta de golpe também guardaria. Mas com diferenças em relação ao que ele fez. A primeira: publicaria, para que o distinto público soubesse que se tramava um golpe, ou que se tramou. E dada à gravidade do caso, revelaria como a obtive.

Torres levou a minuta para casa. Em depoimento à CPI do Golpe, disse que a minuta era “imprestável”, “uma aberração jurídica” e que seria “jogada no lixo”. Apesar disso, guardou-a em um armário do seu quarto “por mero descuido”. Como a obteve? Recebeu-a de uma pessoa, cuja identidade não lembra.

É possível acreditar em história tão rocambolesca? Os bolsonaristas acreditam, ou dizem acreditar. Ou porque são idiotas ou porque se fingem de idiotas para não parecer golpistas. Por sinal, muitos dos presos do 8 de janeiro disseram que invadiram o prédio do Congresso só para orar pelo Brasil acima de tudo.

Outros form descobertos por tentar conectar seus celulares à rede Wi-Fi da Câmara. Assim poderiam transmitir o golpe ao vivo e fazer selfies. Um reclamou de ter sido preso por uma polícia que tanto amava, e que ensinou seus filhos a amarem; uma polícia que o escoltou delicadamente até a Praça dos Três Poderes.

Por que Torres não deu voz de prisão na hora que a pessoa lhe entregou a minuta do golpe? Tinha autoridade para prendê-la. Tinha obrigação de prendê-la. Por que o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordem de Bolsonaro, não pediu a prisão dos militares que lhe enviaram mensagens falando em golpe?

Ora, se Bolsonaro, como presidente, limitou-se a apenas ouvir o deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) e o senador Marcos Do Val (Podemos-ES) discutirem na sua frente a possibilidade de um golpe, por que Torres e Mauro Cid deveriam ter se comportado de outra maneira? Todos foram peças de um enredo infame.

Torres contou que ao embarcar para os Estados Unidos na véspera do golpe, não fora alertado por ninguém sobre o que estava prestes a acontecer. Ele já assumira a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal. Foi alertado, sim. Em Miami, teria perdido seu celular. É mais verossímil que tenha dado um sumiço nele.

“O senhor deve estar achando que aqui nesta CPI tem algum Pateta”? – indignou-se o deputado Duarte Jr (PSB-MA). Torres não respondeu. Manteve a postura fria de quem fora treinado para não reagir às provocações. Sobre os bloqueios da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no dia do segundo turno das eleições…

Torres repetiu que viajou à Bahia na véspera para acompanhar a obra de reforma do prédio da Superintendência da Polícia Federal, em Salvador. O então superintendente, o delegado Leandro Almada, diz que Torres foi pedir que a Polícia Federal reforçasse as ações de bloqueio da PRF para “evitar crimes eleitorais”.

A CPI pretende acarear Torres com Almada para saber quem está mentindo. Almada, hoje, é o superintendente da Polícia Federal no Rio. O governador Cláudio Castro (PL) pediu a Lula duas vezes para que não nomeasse Almada. Em vão. Almada sabe muita coisa sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco.

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