Boletim do golpe (XII) – Bolsonaro, o patriota de mentira
Espetáculo digno de uma República de Bananas
atualizado
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Está marcada para logo mais a partir das 16h no Palácio da Alvorada a mais escandalosa demonstração do que é ser patriota à moda Bolsonaro e seus afins. O país nunca viu nada parecido.
A convite dele, cerca de 40 embaixadores dos mais importantes países do mundo se reunirão para ouvi-lo falar sobre sua falta de confiança no sistema eleitoral brasileiro.
Não importa que o mesmo sistema que hoje ele tanto emporcalha lhe tenha dado 7 mandatos de deputado e um de presidente. A 76 dias das próximas eleições, Bolsonaro tenta desacreditá-lo.
Em 1970, na fase mais violenta da ditadura militar instalada no país 6 anos antes, dom Hélder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife, foi a Paris para uma palestra no Palácio dos Esportes.
E ali, diante de 10 mil pessoas, denunciou que no Brasil a ditadura torturava e matava. Na volta, foi batizado de “bispo vermelho” pelos militares e proibido de falar em público.
Pelos 9 anos seguintes, a imprensa não pôde citar mais o nome do arcebispo, acusado de mentir e de não ser um patriota. O governo sabotou sua indicação para o Prêmio Nobel da Paz.
“É absurdo e antipatriótico o presidente convidar embaixadores para questionar uma instituição nacional, o Poder Judiciário”, observa Flávio Dino (PSB), ex-governador do Maranhão.
À época da palestra de dom Hélder, havia fartas provas de torturas, mortes e desaparecimentos de presos políticos. Bolsonaro não tem uma única prova de fraude em 26 anos de voto eletrônico.
Se tem, jamais apresentou. Se tivesse, já deveria tê-las remetido ao exame da Justiça Eleitoral, a quem cabe pela Constituição garantir a realização de eleições seguras, limpas e justas.
As de outubro, decididamente serão injustas, mas não pelo que Bolsonaro diz e não prova, mas pelo que ele fez com o apoio do Congresso ao emendar a Constituição para se beneficiar.
Os candidatos têm o direito de disputar eleições em iguais condições. A recente emenda dá vantagens a Bolsonaro e a todos que os que mamam nas tetas do Orçamento Secreto da União.
Os militares se comportam como se eles, mais do que os civis, fossem patriotas, pessoas que amam sua pátria, que agem em sua defesa e que normalmente não enxergam defeitos em seu país.
Censuraram dom Hélder por entender que ele não poderia falar mal do seu país no exterior. Calam-se e apoiam Bolsonaro quando ele está pronto a fazê-lo diante de representantes de outros países.
O que pretende Bolsonaro com a peça que encena esta tarde para deleite ou assombro do mundo? Antecipar que não aceitará os resultados das eleições de outubro caso seja derrotado?
Não se dá conta de que será o protagonista de mais um ato digno de uma República de Bananas? Que o Brasil se cobrirá de vergonha por causa disso? Ou está pouco se lixando?
A ditadura de 64 acabou depois de 21 anos, mas o golpismo que fazia parte do DNA dos militares continua a circular nas veias dos que um dia expulsaram Bolsonaro do Exército por má conduta.
Talvez tenham se arrependido.