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A estrela de primeira grandeza da primeira das quatro noites da convenção do Partido Democrata foi o presidente Joe Biden, o homem mais velho a governar os Estados Unidos, forçado a desistir da reeleição para dar passagem à candidatura da sua vice, Kamala Harris. Uma estrela que se apaga e outra que se acende.
A última vez em que um presidente americano deixou de se candidatar à reeleição foi em 1968: o democrata Lyndon Johnson, que chegou ao poder após a morte a tiros de John F. Kennedy em novembro de 1963, e um ano depois foi eleito para um mandato completo. A guerra no Vietnã reduzira a popularidade de Johnson.
Antes de Johnson, no século XX, outros dois presidentes também abdicaram da reeleição – um deles Harry Truman em 1952, desgastado pela guerra da Coreia. No século XIX, três presidentes, por razões de saúde, se recusaram a disputar mais um mandato. Biden, portanto, é o sétimo presidente a proceder assim.
O sucessor de Johnson foi o republicano Richard Nixon, que se reelegeu e depois renunciou para não ser cassado. Biden espera ser sucedido por Kamala, que em novembro próximo enfrentará Donald Trump. Nos últimos 100 anos, fora Trump, apenas três presidentes americanos concorreram à reeleição e perderam.
O discurso de despedida de Biden, não fossem as menções a Kamala, talvez fosse o discurso que ele faria de aceitação de sua candidatura a um novo mandato. Biden entrou no palco enquanto enxugava os olhos após ser apresentado por sua filha, Ashley. A multidão aplaudiu-o por 10 minutos, gritando: “Obrigado, Joe.”
Biden falou durante 50 minutos citando todas as realizações do seu governo e batendo sem dó em Trump. Depois do dele e o de Kamala, Trump foi o nome mais citado, cerca de 150 vezes, segundo o jornal Washington Post. Trump foi vaiado em pelo menos duas dezenas de ocasiões.
Se ao debater com Trump há pouco mais de um mês, Biden travou, não conseguiu completar frases e revelou sua fragilidade mental e física, desta vez ele se apresentou em excelente forma. Emocionou-se nos momentos em que deveria, brincou quando deveria, e foi enérgico quando deveria. Disse a certa altura:
“Eu amo o trabalho, mas amo mais o meu país. E toda essa conversa sobre como estou bravo com todas aquelas pessoas que disseram que eu deveria renunciar, isso não é verdade. Eu amo meu país ainda mais. E precisamos preservar nossa democracia”.
A defesa da democracia foi o pano de fundo do seu discurso. Há quatro anos, ele lançou-se candidato a presidente para salvar a democracia ameaçada por Trump. Agora, sai de cena na tentativa de impedir que Trump volte a ameaçar a democracia. Biden passou o bastão à primeira mulher negra que poderá se eleger presidente.
Kamala não resistiu e subiu inesperadamente ao palco para agradecer a Biden por sua “vida de serviço à nossa nação”. Sua aparição ao ritmo acelerado de “Freedom”, de Beyoncé, surpreendeu a multidão que rugiu alto quando ela disse:
“Vamos lutar pelos ideais que prezamos e vamos sempre lembrar: quando lutamos, vencemos”.
A festa dos democratas reunidos em Chicago está só começando.