Barroso prega para os senadores a manutenção do voto eletrônico
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral está muito perto de derrotar a pretensão de Bolsonaro de reintroduzir o voto impresso
atualizado
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Lembrai-vos do que aconteceu nos Estados Unidos quando, derrotado por Joe Biden, candidato do Partido Democrata, o presidente Donald Trump, com apoio do seu partido, o Republicanos, denunciou o resultado como fraudulento. Por lá, o voto é em cédulas e contado manualmente.
Lembrai-vos do que aconteceu no Peru quando o candidato da esquerda, Pedro Castillo, disputou no segundo turno a presidência da República com Keiko Fujimori, a candidata da direita. Amanhã fará 30 dias que isso aconteceu. Fujimori disse que houve fraude. Por lá, também, o voto é em cédulas, e a contagem manual.
Há 25 anos o Brasil adotou o voto eletrônico. E desde então nenhum caso de fraude foi registrado. Em 2014, derrotado por Dilma Rousseff (PT), a presidente reeleita, Aécio Neves (PSDB) bateu às portas da justiça e declarou que a eleição fora roubada. Mais tarde admitiu que agira assim só para tumultuar.
Luis Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral, poderá valer-se desses e de muitos outros argumentos durante o debate que travará, hoje, com senadores. É um devoto do voto eletrônico, como de resto são praticamente todos os ministros de tribunais superiores.
Deve-se a Barroso a diminuição das chances de o voto impresso, como defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, ser aprovado em breve pela Câmara dos Deputados. Onze partidos, faz poucos dias, convencidos por ele e os seus pares, firmaram o compromisso de votar contra o projeto que restabelece o voto impresso.
No Senado, são poucas as vozes favoráveis ao que Bolsonaro quer. E por que ele quer desativar as urnas eletrônicas? Justamente para tentar melar o resultado da eleição presidencial do ano que vem se a perder. Como fez Trump, seu guia, hoje exilado na Flórida, calado nas redes sociais, com seus lucrativos negócios ameaçados.
Lembrai-vos que no país da mais antiga democracia do planeta, Trump planejou dar um golpe. Convocou uma manifestação em Washington no dia em que o Congresso proclamaria oficialmente a vitória de Biden. Sua turba, enfurecida, invadiu o prédio do Congresso para destruir documentos e agredir senadores.
Não deu certo. Mas poderia ter dado. Os Estados Unidos, a Comunidade de países europeus e observadores internacionais disseram que a eleição peruana foi limpa e justa. E ela foi ganha pelo candidato da esquerda com a pequena vantagem de 40 mil votos. A direita inconformada não perdeu a esperança no golpe.
Com voto impresso ou eletrônico, Bolsonaro prepara-se para negar uma eventual derrota em 2022. Nada de estranho para um presidente que defende a ditadura de 64. Se o golpe, por aqui, não for bem-sucedido, como não foi nos Estados Unidos, servirá para manter acessa a extrema-direita que veio para ficar.