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Barroso fala fora dos autos e anima o fantasma do bolsonarismo

Palavra é prata, silêncio é ouro

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Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal, fala à imprensa durante velório do jurista Sepúlveda Pertence -metrópoles
1 de 1 Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal, fala à imprensa durante velório do jurista Sepúlveda Pertence -metrópoles - Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

No que deu o ministro Luís Roberto Barroso, presidente daqui a dois meses do Supremo Tribunal Federal, revisitar sua história de militante do movimento estudantil no Rio de Janeiro.

Assembleia da União Nacional dos Estudantes (UNE) é como o Maracanã lotado para um clássico: vaia até minuto de silêncio. Vaia até a própria UNE, se não estiver satisfeita com ela.

Fui a três congressos da UNE – um como estudante no agitado ano de 1968, dois como jornalista (1979 e 1980). No de 68, em plena ditadura militar, fomos todos presos – mais de 800 estudantes.

Faltou-nos coragem para vaiar os soldadinhos da Polícia Militar de São Paulo que madrugaram para nos prender em um sítio na área rural de Ibiúna, e que pareciam tão assustados como nós.

Afinal, disseram-lhes que se tratava de um bando de terroristas que a serviço do comunismo internacional tramava a queda da democracia salva pelos militares, que a derrubaram primeiro.

Poderíamos estar fortemente armados. De fato, havia pelo menos três revólveres. O chefe da segurança, um aluno de geologia, ganhou o cargo só porque seu pai colecionava armas antigas.

Acordamos ao som de tiros e marchamos em silêncio para Ibiúna, e dali para o Presídio Tiradentes, em São Paulo. E, atrás das grades, vaiamos a ditadura e a péssima comida que nos serviam.

O congresso de 1979, em Salvador, foi o da reconstrução da UNE, sem repressão, dada à fraqueza da ditadura, e realizado à sombra do então governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães (ACM).

Não faltaram vaias quando o nome de ACM foi citado em discurso, como não faltaram em 1981 quando em Piracicaba, São Paulo, o alagoano Aldo Rebelo, do PC do B, se elegeu presidente da UNE.

O movimento estudantil sempre foi uma incubadora de líderes que mais tarde ingressaram na política formal. Curiosamente deixou de ser com o fim da ditadura e o retorno do país à democracia.

O ministro Barroso conhece essa história. Foi imprudente ao arriscar-se a ser vaiado, talvez imaginando que a toga o blindaria. E foi infeliz em certa passagem de sua fala.

Quis dizer que a democracia triunfou mais uma vez em 8 de janeiro com o fracasso do golpe bolsonarista. Pareceu ter dito que ele e seus colegas de tribunal ajudaram a derrotar os golpistas.

Acabou dando munição para que os remanescentes do golpe, acuados até aqui, voltem a posar vítimas de uma Justiça que se partidarizou. Ao rés do chão, o bolsonarismo agradece.

Palavra é prata, silêncio é ouro. Juiz só deveria falar nos autos.

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