Balança, balança, e se não cair, chegará às eleições como um bagulho
Quem vai querer o apoio público de um indigitado sem despertar suspeitas?
atualizado
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Cacareco é sinônimo de coisa sem valor. Mas em se tratando de política, escolho bagulho, que também é sinônimo, em respeito à memória de Cacareco, um rinoceronte do Zoológico de São Paulo que nas eleições de 1959 recebeu mais de 100 mil votos para vereador.
Foi o “candidato” mais votado. Era no tempo do voto em cédulas de papel que Bolsonaro tentou restabelecer em 2021 por não confiar nas urnas eletrônicas – logo ele, eleito cinco vezes deputado pelo voto eletrônico. No voto em cédula, os eleitores escrevem o nome do candidato.
Até hoje, Cacareco, que morreu em 1962, é citado como um dos mais famosos casos de voto de protesto da história política do Brasil. Vila Velha, no Espírito do Santo, em 1987, deu 29.668 votos para eleger prefeito o mosquito da dengue, três mil a mais do que o segundo colocado.
E o chimpanzé batizado de Macaco Tião, querido das crianças e que desfrutava da fama de atirar objetos nos políticos que o visitavam no Zoológico do Rio, foi o terceiro mais votado para vereador na eleição de 1988. Seu slogan: “O único candidato que já está preso”.
Quem, hoje, teme acabar preso no Rio é o governador Cláudio Castro (PL), acusado de ter feito contratações irregulares no Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Rio de Janeiro (Ceperj) para se reeleger em 2022 em parceria com Bolsonaro.
Dentre os 6 governadores do Rio que enfrentaram problemas na Justiça, 5 foram presos. O julgamento de Castro começou ontem no Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro. O relator do caso, o juiz Peterson Barroso Simão, votou pela cassação do mandato dele.
Não só de Castro, mas também pela cassação do vice-governador Thiago Pampolha (MDB) e do presidente da Assembleia Legislativa, o deputado Rodrigo Bacellar (PL). Se condenados, eles ficarão inelegíveis por 8 anos, como está Bolsonaro, aliado dos três.
Foi um voto muito duro. Simão chamou as contratações irregulares de “escândalo” e de abuso de poder político e econômico, o que configura crime. Disse que o que ocorreu causou “altíssimos danos ao erário” e perturbou “a legitimidade e a normalidade de um pleito”.
Houve, segundo Simão, “distribuição de fortuna a simpatizantes” do governador, e o Ceperj foi transformado numa “distribuidora de dinheiro público em ano eleitoral”. O esquema de contratações absurdas teria sido arquitetado por um “gênio do mal”.
Faltam votar seis juízes, mas um deles, Marcello Granado, pediu vista do processo, o que interrompeu o julgamento. Seja qual for o resultado, porém, quem decidirá em definitivo a sorte de Castro e dos demais acusados será o Tribunal Superior Eleitoral, talvez este ano.
Ou seja: Castro chegará enfraquecido em outubro próximo; alvo dos holofotes; com todos os seus passos sendo vigiados; na corda bamba; cai, não cai; sob desconfiança geral; um péssimo cabo eleitoral. Quem deseja ser visto ao lado de um bagulho sem despertar suspeitas?