Avança a construção de uma frente ampla contra Bolsonaro em 2022
A inflação será a protagonista da eleição do ano que vem
atualizado
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Os bolsonaristas, à frente os filhos zero do presidente, consideraram um fracasso de público as manifestações promovidas por 21 partidos de oposição ao governo, movimentos sociais e centrais de trabalhadores. Ficaram de fora partidos e movimentos mais à direita que se recusaram a participar.
A Central de Movimentos Populares, coordenadora do protesto, disse em nota que as manifestações foram um sucesso, reunindo cerca de 700 mil pessoas “em todo o país, em 304 cidades e em 18 países”. Só na Avenida Paulista teriam sido 100 mil. Novo protesto está marcado para 15 de novembro próximo.
Nem teve tanta gente como diz a nota, nem o sucesso ou insucesso das manifestações pode ser medida pelo número de pessoas – 8 mil na Avenida Paulista, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado, bem menos do que isso em outras cidades, que por sinal não foram tantas como informou a nota.
Não cabe comparar com o 7 de setembro bolsonarista do golpe abortado ou adiado. O governo federal tem a máquina a seu favor, o presidente a caneta mais carregada de tinta da República, e as duas coisas foram escandalosamente usadas para juntar 125 mil pessoas na Avenida Paulista, 40 mil em Brasília.
Se Bolsonaro fosse tão popular como pretendeu demonstrar, por que está atrás de Lula em todas as pesquisas de intenção de voto? Por que perderia, se a eleição de 2022 fosse hoje, para os demais aspirantes a candidato à sua vaga? E por que ele é o campeão da rejeição? Bolsonaro está em baixa e seu desespero em alta.
Lula não deu mais uma vez o ar de sua graça nas ruas, e acertou de novo. Se desse, diriam que tentara tirar proveito político e eleitoral, explorando a dor dos que perderam para a Covid quase 600 mil parentes, amigos ou conhecidos. Por enquanto, ele deixa as ruas para quem precisa delas.
Mas o PT foi representado por seu presidente e seu ex-candidato a presidente em 2018, Fernando Haddad. Guilherme Boulos, líder do PSOL, e Ciro Gomes, candidato do PDT a presidente, estiveram lá. Ciro foi vaiado? Foi, sim, pelos de sempre, os militantes do minúsculo Partido da Causa Operária, sem relevância alguma.
Bolsonaro deve se preocupar mais com o fato de os atos finalmente terem trazido para as ruas um tema que parecia sepultado desde 1994: a volta da inflação. Naquele ano, por ter sido domada pelo Plano Real, a inflação foi a protagonista da eleição vencida por Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que derrotou Lula.
Por estar crescendo, ela tem tudo para ser a grande protagonista da eleição do ano que vem. Que o digam as alegorias gigantes de um botijão de gás, uma lâmpada e um saco de arroz que desfilaram pela Avenida Paulista, e os cartazes e faixas com referência aos preços em disparada. Naturalmente, que o digam as pesquisas.
Segundo o Datafolha, 43% dos eleitores ouvidos há pouco mais de 15 dias citaram o desemprego, a inflação, a fome, a desigualdade, os salários ou a economia em geral como o principal problema do país no momento. Em agosto, o acumulado da inflação em 12 meses foi de 9,68%. Alcançará os dois dígitos em setembro.
Sete em cada dez brasileiros percebem isso, segundo pesquisa do Instituto Ideia Big Data aplicada na semana passada. 80% dos entrevistados apontaram alimentos, combustíveis e energia elétrica como os itens que mais subiram. 64% disseram ter mudado seus padrões de consumo por conta da inflação.
Bolsonaro culpa pela inflação os governadores e o ICMS, imposto que incide sobre a circulação de produtos como eletrodomésticos, alimentos, serviços de comunicação e transporte intermunicipal e interestadual, entre outros. A arrecadação advinda desse imposto é encaminhada para os Estados e usada por eles.
Há um ano, gastava-se 211 reais para encher um tanque do Onix, um carro barato. Hoje, 288 reais. Nesse período, as alíquotas de ICMS não cresceram um único centavo. Logo, Bolsonaro mente, o que não espanta ninguém. O preço da gasolina subiu porque o preço do petróleo subiu no mercado internacional.
O dólar sobe e o real se desvaloriza devido à política econômica errática do governo e as crises políticas que Bolsonaro cria. No sufoco, Bolsonaro temporariamente saiu de cena, dando lugar a Jairzinho paz e amor que redescobriu os pobres e está atrás de dinheiro para socorrê-los – e, por tabela, a si próprio.