Augusto Aras volta à cena no papel de vassalo de Bolsonaro
Manda quem pode, obedece quem foi escalado para obedecer
atualizado
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Sabe quando o Supremo Tribunal Federal atenderá ao pedido feito ontem pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, de suspender trechos da resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que busca agilizar a retirada de conteúdo com desinformação das redes sociais no período eleitoral? Nunca.
Primeiro, porque o Supremo não costuma derrubar decisões do TSE, ainda mais se tomadas por unanimidade. Segundo, porque o relator do pedido de Aras no Supremo, ministro Edson Fachin, está de acordo com a decisão do TSE. Terceiro, porque Fachin não submeterá tão cedo o caso a julgamento do plenário do Supremo.
Aras estava se mantendo discreto desde o início da campanha. E dava sinais de preocupação com a imagem que criou de vassalo de Bolsonaro, arquivista de todas as ações que pudessem causar-lhe algum dano. Chegou a dizer que sua carreira estava no fim e que ele logo iria se aposentar. Lula ouviu e gostou da ideia.
Mas Aras foi acionado por Bolsonaro para abandonar a discrição e voltar a entrar em campo. Essa história de proibir fake news e de na reta final da campanha bani-las das redes com mais agilidade, poderia prejudicar Bolsonaro. Se ele estivesse à frente de Lula nas pesquisas de intenção de voto, até seria suportável, mas atrás?
As plataformas estão sendo inundadas por uma gigantesca onda de notícias falsas a serviço da reeleição de Bolsonaro. Muito dinheiro foi reservado para ser gasto com a disseminação delas a 8 dias das eleições. O que aconteceu em 2018 foi só um treino se comparado com o que está em curso desde o início do segundo turno.
Para que serve Aras se não para servir ao presidente que o pôs no cargo, e que acenou com uma vaga de ministro do Supremo se ele se comportasse bem? Há ministros do Supremo, antes simpáticos e defensores de Aras, que hoje admitem ter errado na avaliação positiva que fizeram dele. Mas, agora, é tarde.
Em entrevista a um grupo de veículos de comunicação, encabeçado pelo SBT (Sistema Bolsonarista de Televisão), o presidente evitou bater diretamente no ministro Alexandre de Moraes, seu saco preferido de pancadas. Orientado a fazer papel de bom moço, ele fez, protegido pela regra de que não poderia ser replicado.
O jornalista perguntava, ele respondia, e o jornalista estava impedido de voltar ao assunto. É o modelo com o qual sonham todos os entrevistados. A palavra final é deles. E assim, podem mentir à vontade, manipular dados, sem serem confrontados com a verdade. Melhor do que isso, só pronunciamentos oficiais.
Na entrevista sob controle no SBT, perguntado sobre a resolução do TSE, Bolsonaro destacou que qualquer tipo de condenação por disseminação de fake news “não tem amparo legal”. E negou propagar notícias falsas. O jornalista que fez a pergunta não pode citar nenhuma das notícias falsas que ele já propagou.
A mais recente foi a das adolescentes venezuelanas refugiadas no Brasil com as quais “pintou um clima”. Bolsonaro disse que elas eram “garotas de programa”, depois que a ex-ministra Damares Alves, da Mulher e dos Direitos Humanos, a mando dele mesmo, ter conferido que elas não eram “garotas de programa”.