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Ataque do Irã a Israel serviu para tirar de Gaza a atenção do Ocidente

A guerra e a fome seguem matando os palestinos

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Foto colorida de ataque contra a Faixa de Gaza - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida de ataque contra a Faixa de Gaza - Metrópoles - Foto: Amir Levy/Getty Images

Sem o dizer, naturalmente, Israel celebra o ataque de faz de conta do Irã do qual foi alvo no último fim de semana; um ataque coreografado, como dizem os especialistas em conflito. Por meio da Turquia, os Estados Unidos foram informados a respeito com antecedência e puderam reforçar a defesa de Israel, junto com a Jordânia, o Reino Unido e a França.

Não foi um ataque para valer em retaliação ao ataque de Israel ao consulado do Irã, em Damasco, capital da Síria, onde 16 pessoas morreram, entre elas três generais iranianos. Israel está acostumado a assassinar pessoas em qualquer lugar que considere um risco à sua segurança. Faz isso em tempos de guerra e de paz. Outorgou-se o direito de matar.

As leis da guerra reconhecem o direito à reação de um país que se sinta atacado – foi o caso do Irã. Que quis também dar uma demonstração de força, mas com o cuidado de não matar civis e de provocar poucos danos a Israel. Não matou ninguém – estilhaços de um míssil feriram gravemente uma menina de 7 anos, que se recupera. O ataque durou poucas horas.

Foi o que bastou, porém, para que as potências ocidentais, que ameaçavam suspender a venda de armas a Israel incomodadas com a morte de milhares de palestinos na Faixa de Gaza (algo como 35 mil até aqui), dessem marcha ré. Voltaram a juntar-se incondicionalmente a Israel, sustando as reclamações sobre o que segue ocorrendo na Faixa de Gaza.

O estado de Israel, em grande parte, é uma invenção do Reino Unido que data do início do século passado, e que passou a interessar aos demais países europeus e aos Estados Unidos. Durante a Segunda Guerra Mundial, todos fecharam os olhos ao massacre dos judeus na Alemanha. Reabriram para instalar os judeus em terras onde vive um povo indefeso, a Palestina.

E desde então o apoiam, sustentam e defendem, quer Israel tenha ou não tenha razão. A guerra movida por Israel contra os palestinos, e que se apresenta como se fosse apenas contra o Hamas, e a fome que mata na Faixa de Gaza, nunca importaram de fato. Acontece que elas jamais foram tão mal recebidas pelo mundo como hoje. Daí…

“Os países e os povos mostraram-se solidários conosco, mas agora a simpatia transferiu-se para Israel”, diz Bashir Alyan, funcionário da Autoridade Palestina, que vive numa tenda em Rafah com os seus cinco filhos. “Israel se tornou vítima da noite para o dia.” Ele assistiu à súbita mudança no foco diplomático porque a vida da sua família depende disso.

A maior parte dela vive da ajuda alimentar fornecida pela Unwra, a agência da ONU para os refugiados palestinos. Bashir emagreceu 20 quilos em seis meses. “As pressões internacionais exercidas sobre Israel para trazer mais ajuda e parar a agressão contra Gaza são agora uma coisa do passado”, ele diz“Os problemas do Irã não são os nossos.”

A chefe da ajuda humanitária dos Estados Unidos, Samantha Power, tornou-se a primeira autoridade do seu país a confirmar que a fome começa a tomar conta do território. Em resposta, Israel prometeu “inundar” Gaza com comida e abrir passagens para o norte, onde a fome é mais extrema.  Uma passagem foi aberta, mas a ONU não foi autorizada a usá-la.

“Com todos os olhares voltados para a perigosa escalada entre Israel e o Irã, estamos preocupados que Gaza seja abandonada”, afirma Tania Hary, diretora executiva de uma ONG israelense criada para proteger a liberdade de circulação dos palestinos. Os Estados Unidos parecem tão distraídos que mal conseguem acompanhar os envios de ajuda.

Há também o receio de que, com o mundo concentrado nas ameaças do Irã, Israel cumpra a promessa de enviar tropas para Rafah, no extremo sul de Gaza, único local que ainda não foi palco de combates intensos. Os militares israelenses anunciaram que estavam convocando duas brigadas de reserva “para atividades operacionais na frente de Gaza”.

“Se estas tropas forem trazidas para Rafah, será um desastre”, assegura Hikmat al-Masry, uma acadêmica e mãe de um filho refugiado na cidade do sul do enclave. “Este é o pulmão através do qual respiram todos os residentes da Faixa de Gaza. É o único ponto de passagem para a entrada de ajuda. Para onde irão todos esses refugiados?” 

Com a palavra, os governos do Ocidente, sempre tão sensíveis ao sofrimento alheio.

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