metropoles.com

Arthur Lira põe em xeque a liberdade de expressão

A lição de Mocidade que o presidente da Câmara não aprendeu

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
IGO ESTRELA/METRÓPOLES @igoestrela
Arthur Lira
1 de 1 Arthur Lira - Foto: <p> IGO ESTRELA/METRÓPOLES<br /> @igoestrela</p><div class="m-banner-wrap m-banner-rectangle m-publicity-content-middle"><div id="div-gpt-ad-geral-quadrado-1"></div></div> </p>

Mocidade, orador popular de sucesso no final dos anos 1960 em João Pessoa, capital da Paraíba, vivia de favores que lhe prestava o governador da época, João Agripino (UDN), seu admirador.

Dormia no Palácio da Redenção, sede do governo, e, quando queria, ali se alimentava. À noite, vez por outra, Agripino o chamava para jogarem conversa fora. Julgava-o muito inteligente e divertido.

Um dia, a propósito de uma manifestação estudantil no Ponto Cem Réis, no centro da cidade, Agripino soube que o orador que mais atacava seu governo era justamente Mocidade. Avisado pelo chefe da polícia, Agripino decretou:

“Deixe os estudantes em paz, mas me traga Mocidade de imediato”.

Mocidade escapou antes de ser preso, mas à noite apareceu no palácio para dormir. Agripino convocou-o à sua presença. Os dois travaram o seguinte diálogo que cito de memória:

“Seu Mocidade, quem lhe dá de comer?” – perguntou Agripino.

“O senhor”, respondeu Mocidade.

“Eu, não, o governo da Paraíba. E quem lhe dá abrigo para dormir?”

“Bem… É o governo da Paraíba”, retrucou Mocidade.

“Então, por que o senhor aproveita uma manifestação estudantil para atacar o governo?” – insistiu o governador.

Mocidade fez uma pausa e disse:

“É que governo só serve para apanhar, meu doutor”.

Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, não é governo. Mas é uma figura pública poderosa, capaz de ajudar ou infernizar a vida de governantes. Bolsonaro não tem queixas dele, mas Lula tem demais.

Desse tipo de figura espera-se que tenha o casco mais grosso, mas esse não foi o caso de Lira que acionou a Polícia Legislativa contra o influenciador digital Felipe Neto, que se referiu a ele como “excrementíssimo”, em alusão ao pronome “excelentíssimo”.

Em nota, Lira afirmou que Neto foi autuado no crime de injúria qualificada. O crime de injúria tem pena prevista de prisão de um a seis meses, ou multa.

Injúria qualificada aumenta a pena de prisão em um terço quando o crime for cometido contra servidores públicos no exercício das funções, e os presidentes do Senado, da Câmara e do Supremo Tribunal Federal.

Neto respondeu no X, ex-Twitter, que as “ações e inações” de Lira são, em grande parte, “nocivas e extremamente reprováveis”. E defendeu-se:

“Minha intenção, ao citar ‘excrementíssimo’, foi claramente fazer piada com a palavra ‘excelentíssimo’, uma opinião satírica, jocosa, evidentemente sem intenção de ofensa à honra”.

Uma vez, Bolsonaro pediu que seu ministro da Justiça, André Mendonça (hoje ministro do Supremo), me processasse com base na Lei de Segurança Nacional. Meu crime: ter publicado uma charge de Aroeira que o ligava à suástica nazista.

O processo acabou não dando em nada. Como não dará em nada o processo de Lira contra Neto. Ultimamente, Lira está muito sensível. Um dia chama de “incompetente” e de “desafeto pessoal” dele o ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais.

No outro, depois de encontrar-se com Lula, retira o “incompetente” e a condição de Padilha de “desafeto pessoal”. Está próximo o fim do mandato de Lira como presidente da Câmara – termina em fevereiro. Talvez por isso, ele anda com os nervos à flor da pele.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comBlog do Noblat

Você quer ficar por dentro da coluna Blog do Noblat e receber notificações em tempo real?