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Argentina dá mais um show de bola em cima do Brasil

Para aumentar nossa vergonha

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Imagem de uma bandeira da Argentina, em meio a várias luzes e com um fundo escuro - Metrópoles
1 de 1 Imagem de uma bandeira da Argentina, em meio a várias luzes e com um fundo escuro - Metrópoles - Foto: Getty Images

Não é sobre o que aconteceu no Maracanã, das arquibancadas ao gramado. Só por hábito ainda insistimos em chamar o time do Brasil de Seleção, com “S” maiúsculo. Não temos uma que mereça tal reverência desde o pentacampeonato, em 2002, no Japão.

Aquela foi a seleção de Ronaldo, Ronaldinho, Rivaldo, Roberto Carlos e Cafu. Mesmo tendo perdido a Copa de 1982, a Seleção montada pelo técnico Telê Santana encantou o mundo com o futebol de Toninho Cerezo, Falcão, Sócrates, Zico e Éder.

Aos incorrigíveis otimistas, resta lembrar que o Brasil só garantiu o direito de disputar as Copas de 1994 e 2002 no último jogo, mas que apesar disso foi campeão. Nunca na fase de classificação a seleção foi tão mal das pernas como está sendo na de 2026.

O futebol me encanta desde que ouvi por rádio o Brasil ser campeão do mundo pela primeira vez em 1958, e bicampeão em 1962. Este texto, porém, é sobre a democracia, e a goleada que a Argentina está a aplicar no Brasil para merecida vergonha nossa.

Verdade que a Argentina acaba de eleger um presidente de extrema direita, Javier Milei, como aqui, em 2018, elegemos Jair Bolsonaro, também de extrema direita. Saímos na frente, e a Argentina empatou o jogo. Mas desempatou no minuto seguinte.

Derrotado por Lula em 30 de outubro do ano passado, Bolsonaro calou-se por semanas a fio. Sérgio Massa, candidato peronista, reconheceu a derrota antes da divulgação do primeiro boletim com a marcha das apurações e parabenizou Milei pela vitória.

Sem essa de ele falar em recontagem de votos. Sem essa de sugerir que a eleição poderia ter sido fraudada. Sem essa de se dizer vítima de erisipela e refugiar-se em casa. Os peronistas não bateram à porta de quartéis para pedir a anulação das eleições.

Aqui, o candidato vencido ordenou aos militares que fornecessem abrigo e tratasse com carinho os que defendiam um golpe de Estado. E, ele mesmo, ocupou-se em tramar um golpe para se perpetuar no poder. Desistiu porque faltou-lhe apoio.

Embarcou para o exílio sem transferir a faixa presidencial para seu sucessor, levando parte das joias presenteadas ao Estado brasileiro por chefes de governo de outros países. A distância, assistiu à tentativa desastrada de golpe dos seus devotos inconformados.

A transição de governo na Argentina começou 48 horas depois da eleição de Milei, quando ele foi recebido pelo atual presidente, Alberto Fernández. Massa, que ameaçou renunciar de imediato ao cargo de ministro da Economia, decidiu permanecer.

Um dos pilares da democracia é a transição pacífica do poder, e é isso o que ocorre na Argentina. E foi isso o que não ocorreu no Brasil.

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