Antes de Trump, Bolsonaro inspirou-se em Aécio para melar a eleição
Quando a semente do golpismo começou a germinar por aqui
atualizado
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Dia do segundo turno da eleição presidencial de 2014, o domingo 26 de outubro amanheceu ensolarado em grande parte do país. Onde choveu foi pouco. O PSDB parecia tão certo da vitória do seu candidato, Aécio Neves, ex-governador de Minas, que a festa da vitória começou a ser preparada desde cedo em Belo Horizonte.
Para lá, tão logo a votação fosse encerrada no fim da tarde, voariam de todos os Estados os principais líderes do partido. No aeroporto de Congonhas, em São Paulo, um jatinho aguardava a hora de decolar para levar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que governou o país entre 1995 e 2002
A decolagem foi abortada quando o Tribunal Superior Eleitoral, por volta das 21 horas, divulgou seu primeiro boletim: para surpresa geral, até do PT, a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, saíra na frente da contagem de votos. Como se esperava, São Paulo votara em peso em Aécio, mas ele perdia em Minas.
Resultado final da mais renhida eleição presidencial disputada em segundo turno desde 1998: Dilma, 51,64% dos votos válidos; Aécio, 48,36%. Abstiveram-se de votar 21,10% do total de eleitores. Votos em branco ou nulo: 6,34%. Naquele mesmo dia, Lula avisou Dilma que se preparasse porque seu segundo governo não seria fácil.
Na quinta-feira, dia 30 de outubro, autorizado por Aécio, o coordenador jurídico de sua campanha, o deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP), entrou no Tribunal Superior Eleitoral com um pedido formal de auditoria para averiguar a lisura das eleições. Foi o próprio Sampaio que assinou a petição.
O texto dizia que a infalibilidade das urnas eletrônicas e a confiabilidade da apuração estavam sendo questionadas nas redes sociais. Não se tratava de pedir a recontagem de votos, mas de contribuir para dissipar o sentimento de desconfiança expresso nas redes. Dito de outro modo: poderia ter havido fraude.
Dois dias depois, em São Paulo, cerca de 3 mil pessoas, em passeata, marcharam da Avenida Paulista na direção do Parque do Ibirapuera gritando que a eleição fora roubada e pedindo o impeachment de Dilma. Ela foi afastada do cargo em maio de 2016, e derrubada no dia 31 de agosto do mesmo ano.
De nada adiantou o Tribunal Superior Eleitoral ter concluído no dia 5 de novembro de 2015 que as eleições de um ano antes foram limpas. Não foi por isso que Dilma caiu; acusaram-na de pedalar o Orçamento gastando mais do que podia. Seus antecessores pedalaram também, e Bolsonaro pedala para se reeleger.
Aponta-se o ex-presidente Donald Trump como o modelo preferencial de Bolsonaro. Trump foi derrotado e tentou dar um golpe para não deixar a Casa Branca. Ele, porém, não é o único modelo. Bolsonaro espelha-se no que fez o PSDB em 2014 para preparar sua reação caso seja derrotado em outubro próximo.