Amigos para sempre, Pedro Guimarães fará muita falta a Bolsonaro
Não fará nenhuma às funcionárias da Caixa Econômica
atualizado
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Na manhã de ontem, Bolsonaro soube que fora condenado a pagar multa à jornalista Patrícia Campos Mello por tê-la agredido com uma insinuação sexual. No fim da tarde, recebeu a carta de demissão de Pedro Guimarães, presidente da Caixa Econômica, acusado de assédio sexual. Guimarães e ele tinham tudo a ver.
Segundo o Datafolha, 47% das mulheres afirmam que já foram alvos de assédio sexual. O que elas dirão do fato de Bolsonaro não ter demitido Guimarães, mas dado a ele a chance de pedir demissão? Faz diferença, sim. Se tivesse ficado indignado com o comportamento de Guimarães, ele o teria demitido. Não ficou.
Bolsonaro demitiu Henrique Mandetta, seu primeiro ministro da Saúde. Demitiu os ministros Gustavo Bebianno e o general Santos Cruz a pedido do filho Carlos. Demitiu o ministro da Defesa, um general, e os comandantes militares. Sob pressão do Centrão, demitiu os ministros das Relações Exteriores e do Meio Ambiente.
Ele diz ser dono da caneta mais carregada de tinta da República e que não se acanha de usá-la. Por que desta vez usou-a apenas para referendar uma decisão que não tomou? Que Guimarães era um misógino e assediador contumaz, até as emas do Palácio da Alvorada sabiam. O ministro Paulo Guedes, que o indicou, sabia.
Ocorre que Guimarães conquistou o coração de um presidente que enxerga defeitos em todo mundo, menos nos filhos; desconfiado e paranoico. Bolsonaro considera Guimarães um técnico competente, que trouxe bons resultados financeiros para a Caixa, e a livrou de esquerdistas nos postos de chefia.
Tornaram-se amigos, unha e carne. Guimarães foi um dos únicos auxiliares de Bolsonaro a passar férias com ele. No final do ano passado, foram pescar e visitar ilhas no litoral sul de São Paulo. Bolsonaro referiu-se mais de uma vez a Guimarães como “PG2” – o segundo Paulo Guedes, e pensou em trocar um pelo outro.
“Já falei para vocês que quem entende de economia é o Paulo Guedes, o Pedro Guimarães, o Roberto Campos [presidente do Banco Central]. Eles que tratam deste assunto. Dei carta branca para eles”, disse Bolsonaro no primeiro novembro do seu governo. Os dois haviam se conhecido há menos de um ano.
Os estrategistas da campanha de Bolsonaro à reeleição temem que amizade tão estreita acabe prejudicando-o quando começar a ser explorada pela oposição. A rejeição a Bolsonaro é maior entre as mulheres, e esmagadora entre as mulheres do Nordeste onde Lula é campeão de votos. Guimarães saiu, mas topa voltar.
O que restou da ala bolsonarista de quatro costados dentro do governo depois da invasão do Centrão defende que Guimarães seja aproveitado em algum lugar de menor exposição pública. O general Eduardo Pazuello, demitido por Bolsonaro do ministério da Saúde, não virou assessor especial? Por que Guimarães, não?